2007, Eita aninho esquisito!
O ano começou com uma viagem longa para Caldas Novas, Goiás. Um lugar muito bonito, mas uma viagem que era para me desestressar acabou de estressando muito mais por uma série de motivos.
Ao voltar, recebi dois socos no estômago no mesmo dia. O primeiro deles, perdi minhas turmas na atribuição de salas do início do ano e só consegui aulas à tarde. Cheguei em casa nervoso, irritado, postei um mega desabafo na comunidade dos meus alunos e a cada resposta deles não sei se ficava mais triste ou mais feliz. Eles estavam tão tristes quanto eu. O segundo soco no estômago foi o que faltava para eu ser nocauteado. Por motivos bestas e alheios à minha vontade, minha filha do coração, minha lider, minha atriz-referência Kelly resolve deixar o Peixe Vivo. Mantive-me forte naquela hora, porém mais tarde beijei a lona.
Início de processo de formatura na Fundação, término de namoro, volta, término, dificuldades de adaptação com as turmas novas, paracia que um turbilhão de coisas iriam me levar para longe, para nunca mais voltar. Decidi cuidar de mim. Resolvi ir para um treinamento de alto impacto chamado DL, Desenvolvimento e Liderança, num hotel fazenda no Rio de Janeiro por um final de semana sem contato com o mundo exterior. Se não fosse este treinamento não sei como suportaria as pressões que vinham sobre mim. Aprendi coisas maravilhosas, conheci muita gente legal e ri demais. Também desenvolvi um carinho especial pelo povo carioca.
Tive uma suspeita de apendicite, fui parar no hospital, fiz uma bateria de exames, fiquei mais de 30 horas sem comer, tive uma crise de choro no hospital, mas enfim, foi só uma suspeita. Só meses mais tarde descobri que aquilo era uma manifestação psicossomática de problemas que se anunciariam mais adiante. Naquele momento fiquei muito feliz por não ser operado.
Aos poucos as coisas foram se acertando, melhorando, entrando nos eixos. O trabalho com as salas começou a melhorar, o namoro retomou seus melhors momentos, o Peixe Vivo assistiu o surgimento de outras pontencialidades e talentos, o retorno de pessoas especiais como a Bianca que trouxe em sua cola o talento de Hugo Camilo. Tudo isso trouxe novo ânimo à minha vida. Além disso, recebi um grande presente chamado Campônio, meu personagem no espetáculo Vem Buscar-me que ainda sou teu, minha formatura, que embora tivesse problemas à parte, caminhou como esperado. Mesmo porque problema era quase um sinônimo de Turma 37.
Com a estréia do Vem Buscar-me, com a estréia no Peixe Vivo cada vez mais próxima, minha paixão pelo teatro, que já era grande tornou-se maior ainda. Esperava ansiosamente os finais de semana, não para não trabalhar, mas para não ter tempo de fazer outra coisa que não fosse teatro. Principalmente porque a cada dia me sentia mais e mais descontente com o sistema educacional público em que estava inserido. Trabalhar no Estado começou a ser para mim um sofrimento, o que antigamente era um prazer. Cheguei ao cúmulo de várias vezes passar de carro pela frente da escola e não entrar, seguir em frente e ir para outro lugar como um garoto matando aula. Tudo isso começou a mexer demais com a minha cabeça até que explodi e surtei. Fui afastado das aulas e o psiquiatra que me atendeu disse-me que eu precisava me cadastrar para eu fazer o tratamento. Mas quem disse que eu conseguia? O tempo da minha licença foi vencendo e eu desesperado sem conseguir marcar consulta procurei uma médica particular. Ela me afastou até o final do ano, trocou os medicamentos que eu tomava e me explicou que a suspeita de apendicite que eu tive no começo do ano nada mais era do que um sinal do que estava por vir. E veio. A sorte era que eu estava afastado até o fim no ano e no ano seguinte procuraria outra coisas para fazer.
A temporada do Vem Buscar-me e meu contato com a Turma 37 chegaram ao final no dia do meu aniversário. O que era para ser um dia de alegria passou a sê-lo não por seu meu aniversário, mas por ser o último dia de contato profissional com alguns colegas da 37, com quem pensei que tivesse afinidade de trabalho, mas descobri que era o contrário. Chorei demais nos braços do pessoal do Peixe Vivo e outros alunos pelo que aconteceu lá e que prefiro não relatar aqui, mas que me fez ter certeza de que aquilo fechava o trabalho da turma 37 com chave de lata. Alguns integrantes do Peixe Vivo me abraçaram e me disseram que meu sonho estava realizado. Respondi a eles chorando dizendo que meu sonho começara naquele instante pois meu sonho eram eles.
O Peixe Vivo estreou bem. Por incompetência, descaso e falta de compromisso de algumas pessoas de fora do grupo, o grupo apresentou-se apenas três vezes em São Paulo. Mas havíamos sido selecionados para o Festival de Belo Horizonte e estávamos animadíssimos com a idéi, além de cheios de (vermelho) esperança. Mal podíamos esperar para que a data da viagem chegasse, e chegou.
A ida em si para BH foi longa, mas divertida. Cantamos, gritamos, bagunçamos muito. Chegamos no momento exato do CAFETO, encotrou com os grupos que participariam do Festival. Foi maravilhoso poder trocar experiências com aquelas pessoas e descobrir que para quem faz teatro no Brasil, as dificuldades são as mesmas independente da Unidade da Federação em que estejamos. Acabei até esquecendo que estava cansado.
Nos momentos seguintes ao CAFETO percebi que estar em BH para mim era muito bom, mas que eu estaria lá pensando nos outros e não em mim, em quem ninguém pensava. Isso me dava uma sensação de solidão muito grande. Tudo isso culminou num incidente que me deixou muito, muito chateado e que me fez reavaliar minha conduta e traçar novas estratégias, que foram traçadas, mas que tiveram um alto custo para mim. Sofri demais com as decisões que tomei, mas sustentei-as pois tinha certeza de que foram as mais corretas. Naquele momento, duas pessoas pensaram em mim, Suelen e Rosangela. Se não fosse a companhia da primeira e o colo da segunda, certamente teria desmoronado. Mas valeu a pena pois tudo o que planejei saiu como o esperado e o Grupo fez um sensacional apresentação, o que nos fez voltar com a certeza de que seríamos premiados de alguma forma. Na volta, tive a certeza de que uma pessoa havia entrado na minha vida para ficar, a Rô. Durante a volta, conversamos muito e percebi que um laço tão forte quando o meu e da Kelly estava se fazendo.
Dias após o retorno, houve a apresentação do meu TPT, Trabalho de Pesquisa Teatral, que oficializa o final do curso da Fundação das Artes. O trabalho foi muito bem apresentado por mim e pelo grupo e naquele momento, definitivamente estava formado. O curso havia terminado. Posso-me considerar ator profissional, falta apenas o DRT.
Para meu desespero, minha licença foi negada. Tive que voltar ao trabalho, mas bem no final do ano e com a escola já vazia, mas ainda assim me sentia mal. Tive sorte por isso acontecer justamente no momento em que os meus grupos da escola, Cia do Abraço e Poesia de Corpo Presente iniciariam sua temporada. Mais um momento de felicidade. Os grupos fizeram um ótimo trabalho e o público compareceu, exceto professores e direção da escola, mas quem precisa deles? O que eu chamei de Mostra Teatral foi uma outra conquista para mim. Essa conquista foi só obscurecida por uma crise no namoro.
Voltamos para BH numa viagem rápida para a Cerimônia de Premiação do Festival, onde recebemos 5 prêmios e 8 indicações. Recebi prêmio de Melhor Texto e fui indicado para Melhor Direção. Meus lindos ganharam vários prêmios e me senti premiado com eles. A festa foi ótima, um exemplo de organização, um sonho para mim. Uma sensação indescritível. Uma das maiores emoções de minha vida. Após 8 anos de trabalho duro, começam a nascer os primeiros frutos.
Na volta, a crise do namoro foi felizmente resolvida e pude acompanhar a formatura da turminha que mais amo e com quem passei 2 anos da minha vida, dando aula para eles na sexta e na sétima série. Foi uma emoção muito grande quando ouvi os gritos deles pedindo para que eu discursasse para eles. Apenas cantei uma música que nos era muito especial. "Mudaram as estações..." Lindo demais. Depois disso fui com eles ao Habib´s como amigo e também como amigo fiquei durante algumas horas sentado na calçada em frente à casa da Karen batendo papo e falando besteira.
Somando os prós e os contras. Acho que terminei o ano no lucro!
2007, Eita aninho esquisito!