sexta-feira, 30 de julho de 2010

Arte também é trabalho (desabafo)

O Espaço Cultural Casimiro de Abreu abriu suas portas com este mote. Há algum tempo já, venho tentando lutar contra a idéia de que artista é tudo um bando de folgados, que não tem compromisso com o trabalho, que na verdade não trabalha, que chega atrasado, que não se valoriza enquanto profissional e vive trabalhando de graça para os outros a fim de "divulgar o seu trabalho". 
Grande parte das pessoas não leva o artista a sério. Grande parte disso porque normalmente quando se agrupam, artistas são pessoas alegres, se abraçam, são menos preconceituosas e mostram a verdade de seus corações, vestem roupas em que se sentem bem e revelam suas orientações sexuais sem medo. Muita gente diz que "fulano começou a fazer teatro e virou gay", na verdade, o teatro foi apenas o lugar que permitiu esta descoberta ou que aceitou sua escolha. Teatro não é coisa de viado, como dizem. É coisa de ser humano de todos os tipos, todas as etnias, todas a religiões e todas as orientações sexuais. Muita gente não entende isso. 
O artista é incompreendido? Claro que sim. Mas muitas vezes nós artistas reforçamos o preconceito, a incompreensão e os julgamentos das pessoas quanto à nossa profissão. 
Quando não respeitamos nossa profissão como deveríamos, quando não respeitamos nossos próprios horários e compromissos, reafirmamos o que as pessoas pensam. Muitos problemas nós artistas enfrentamos é fruto da postura do próprio artista. É uma pena constatar isso. E já percebi isso há algum tempo. Aqui no ABC, a questão é ainda mais complicada porque a maioria dos artistas não consegue viver apenas de arte. E isso também é um grande problema. Dobrar jornada é mais duro ainda. Mas quem escolhe isso deve cumprir com seus compromissos. Acredito que ser artista é trabalhar mais do que qualquer um, ser mais caxias, ou pelego que qualquer profissional. Deve-se pensar nisso independente da idade.É de pequenino que se torce o pepino. Quem começa cedo, deve começar certo. Afinal quem começa errado tem muito mais dificuldade de acertar depois. Não aceito a idéia de "pega leve, eles sao jovens". Não aceito.

Desculpem pelo desabafo
 

domingo, 18 de julho de 2010

Relembrando Zumbi


"Eu vivo num tempo de guerra. Eu vivo num tempo sem sol. Só quem não sabe das coisas é um homem capaz de rir. Ah, triste tempo presente, em que falar de amor e flor é esquecer que tanta gente tá sofrendo tanta dor. Todo mundo me diz que eu devo comer e beber. Mas como é que eu posso comer, como é que eu posso beber, se eu sei que eu tô tirando o que eu vou comer e beber de um irmão que tá com fome, de um irmão que tá com sede? De um irmão... Mas mesmo assim eu como e bebo. Mas mesmo assim, essa é a verdade. 
Dizem crenças antigas, que viver não é lutar. Que sábio é o que consegue ao mal com o bem pagar. Quem esquece a própria vontade. Quem aceita não ter seu desejo é tido por todos um sábio. É isso que eu sempre vejo. É a isso que eu digo NÃO!" 

Dizia este texto no Espetáculo Arena Conta Zumbi. Ideologicamente, é o espetáculo que mais mexeu comigo. Aquele que mais disse coisas significativas. Muito do que aprendi com esta montagem, tento trazer para o meu dia-dia. Esta minha mania dizer o que penso (com jeito, mas dizer) vem daquilo que aprendi com um professor que tive, que foi também o diretor desta peça. Ele dizia: "O ator é um formador de opinião. Suas opiniões precisam ser claras". Muita gente o criticava por muitas coisas (algumas até com razão), uma delas era que ele fazia um teatro político. Um dia ele rebateu com a seguinte pergunta: "Existe teatro que não seja político? Existe postura humana que não seja política?" 

Até então eu fazia teatro, mas não tinha qualquer ideal ao fazê-lo. Talvez até o tinha, porque meu teatro sempre esteve atrelado à educação. Mas o fato é que não sabia o motivo de eu fazer teatro. Até eu poder aprender um pouquinho mais sobre aquilo. Aprendi um pouco e hoje aquela idéia é muito forte na minha cabeça. Faço teatro para que o mundo seja um lugar melhor. Para que as pessoas sejam melhores. E levo isso muito a sério. Só eu sei. Desde que eu me formei e até antes disso, não houve um sequer espetáculo que montei que não estivesse profundamente ligado a este ideal. Quando a gente acredita de verdade numa coisa, lutamos por ela com unhas e dentes. E assim tem sido. Tenho lutado pelo teatro em que acredito. E lutado muito. E descobri que lutar pelo que se acredita não é fácil. Mais que isso, é doloroso porque para isso é preciso dizer o que pensa e, consequentemente fazer inimizades e até mesmo ganhar alguns inimigos. É duro, mas acredito. E se acredito sigo lutando, pois só assim tenho razão de ser. 

"Eu vivi na cidade do tempo da desordem. Vivi no meio da gente minha no tempo da revolta. Assim passei os tempos que me deram pra viver. Eu me levantei com a minha gente. Posso ter tido erro. Mas não foi erro ter esse desejo doído de liberdade. Eu comi a minha comida no meio da batalha, amei sem ter cuidado, olhei tudo o que via sem nem tempo de bem ver. Assim passei os tempos que me deram pra viver. A voz da minha gente se levantou e a minha voz junto com a dela. Minha voz não pode muito, mas gritar eu bem gritei. Eu tenho certeza que os dono dessas terra e cesmaria ficaria mais contente se não ouvisse a minha voz. Assim passei os tempo que me deram pra viver. Por querer Liberdade. 

TANTO CANSOU
E ENTENDEU QUE LUTAR AFINAL
É UM MODO DE SER
É UM MODO DE TER RAZÃO DE SER. 

O AÇOITE BATEU
O AÇOITE ENSINOU
BATEU TANTAS VEZES 
QUE A GENTE CANSOU..."