domingo, 18 de julho de 2010

Relembrando Zumbi


"Eu vivo num tempo de guerra. Eu vivo num tempo sem sol. Só quem não sabe das coisas é um homem capaz de rir. Ah, triste tempo presente, em que falar de amor e flor é esquecer que tanta gente tá sofrendo tanta dor. Todo mundo me diz que eu devo comer e beber. Mas como é que eu posso comer, como é que eu posso beber, se eu sei que eu tô tirando o que eu vou comer e beber de um irmão que tá com fome, de um irmão que tá com sede? De um irmão... Mas mesmo assim eu como e bebo. Mas mesmo assim, essa é a verdade. 
Dizem crenças antigas, que viver não é lutar. Que sábio é o que consegue ao mal com o bem pagar. Quem esquece a própria vontade. Quem aceita não ter seu desejo é tido por todos um sábio. É isso que eu sempre vejo. É a isso que eu digo NÃO!" 

Dizia este texto no Espetáculo Arena Conta Zumbi. Ideologicamente, é o espetáculo que mais mexeu comigo. Aquele que mais disse coisas significativas. Muito do que aprendi com esta montagem, tento trazer para o meu dia-dia. Esta minha mania dizer o que penso (com jeito, mas dizer) vem daquilo que aprendi com um professor que tive, que foi também o diretor desta peça. Ele dizia: "O ator é um formador de opinião. Suas opiniões precisam ser claras". Muita gente o criticava por muitas coisas (algumas até com razão), uma delas era que ele fazia um teatro político. Um dia ele rebateu com a seguinte pergunta: "Existe teatro que não seja político? Existe postura humana que não seja política?" 

Até então eu fazia teatro, mas não tinha qualquer ideal ao fazê-lo. Talvez até o tinha, porque meu teatro sempre esteve atrelado à educação. Mas o fato é que não sabia o motivo de eu fazer teatro. Até eu poder aprender um pouquinho mais sobre aquilo. Aprendi um pouco e hoje aquela idéia é muito forte na minha cabeça. Faço teatro para que o mundo seja um lugar melhor. Para que as pessoas sejam melhores. E levo isso muito a sério. Só eu sei. Desde que eu me formei e até antes disso, não houve um sequer espetáculo que montei que não estivesse profundamente ligado a este ideal. Quando a gente acredita de verdade numa coisa, lutamos por ela com unhas e dentes. E assim tem sido. Tenho lutado pelo teatro em que acredito. E lutado muito. E descobri que lutar pelo que se acredita não é fácil. Mais que isso, é doloroso porque para isso é preciso dizer o que pensa e, consequentemente fazer inimizades e até mesmo ganhar alguns inimigos. É duro, mas acredito. E se acredito sigo lutando, pois só assim tenho razão de ser. 

"Eu vivi na cidade do tempo da desordem. Vivi no meio da gente minha no tempo da revolta. Assim passei os tempos que me deram pra viver. Eu me levantei com a minha gente. Posso ter tido erro. Mas não foi erro ter esse desejo doído de liberdade. Eu comi a minha comida no meio da batalha, amei sem ter cuidado, olhei tudo o que via sem nem tempo de bem ver. Assim passei os tempos que me deram pra viver. A voz da minha gente se levantou e a minha voz junto com a dela. Minha voz não pode muito, mas gritar eu bem gritei. Eu tenho certeza que os dono dessas terra e cesmaria ficaria mais contente se não ouvisse a minha voz. Assim passei os tempo que me deram pra viver. Por querer Liberdade. 

TANTO CANSOU
E ENTENDEU QUE LUTAR AFINAL
É UM MODO DE SER
É UM MODO DE TER RAZÃO DE SER. 

O AÇOITE BATEU
O AÇOITE ENSINOU
BATEU TANTAS VEZES 
QUE A GENTE CANSOU..."