quarta-feira, 16 de junho de 2010

De volta

Faz muito tempo que não entro aqui. Não é falta de vontade, é falta do que dizer. Às vezes tenho a impressão de que não tenho muito a dizer. Pois sou sempre aquele que precisa dizer algo, e isso acaba me esvaziando. Tenho preferido ser mais discreto, não ser destaque, aparecer menos, ser mais um. Mas não tomo cuidado e logo já me escancaro de novo. Tenho mania de querer aparecer (sou ator, né?), mas nem sempre isso é bom. Aprendi com um mestre que é preciso aprender a dosar nossa exposição, nossa aparição pública. Acho que venho sentindo minha imagem um tanto desgastada nos últimos tempos, e é por isso que estou revendo alguns conceitos. Foi na hora certa que apareceu um novo emprego, que me ofereceu um curso de capacitação que me fez repensar minha prática, já um tanto cristalizada. Revi e encontrei muita coisa legal, como encontrei muita coisa ruim também.

Não sou mais aquele garoto que saiu da faculdade e acha que sabe tudo. Às vezes ainda tenho um pouco de dificuldade de ouvir uns e outros, mas estou bem melhor do que era. Bem pior do que eu gostaria.

Reli este poema de Victor Hugo e deixo-o aqui, aproveitando para desejar tudo isso a quem ler. Quero viver como diz este poema. Nem mais, nem menos. Isso seria maravilhoso!



Desejo primeiro que você ame,
E que amando, também seja amado.
E que se não for, seja breve em esquecer.
E que esquecendo, não guarde mágoa.
Desejo, pois, que não seja assim,
Mas se for, saiba ser sem desesperar.


Desejo também que tenha amigos,
Que mesmo maus e inconseqüentes,
Sejam corajosos e fiéis,
E que pelo menos num deles
Você possa confiar sem duvidar.
E porque a vida é assim,
Desejo ainda que você tenha inimigos.
Nem muitos, nem poucos,
Mas na medida exata para que, algumas vezes,
Você se interpele a respeito
De suas próprias certezas.
E que entre eles, haja pelo menos um que seja justo,
Para que você não se sinta demasiado seguro.


Desejo depois que você seja útil,
Mas não insubstituível.
E que nos maus momentos,
Quando não restar mais nada,
Essa utilidade seja suficiente para manter você de pé.


Desejo ainda que você seja tolerante,
Não com os que erram pouco, porque isso é fácil,
Mas com os que erram muito e irremediavelmente,
E que fazendo bom uso dessa tolerância,
Você sirva de exemplo aos outros.


Desejo que você, sendo jovem,
Não amadureça depressa demais,
E que sendo maduro, não insista em rejuvenescer
E que sendo velho, não se dedique ao desespero.
Porque cada idade tem o seu prazer e a sua dor e
É preciso deixar que eles escorram por entre nós.


Desejo por sinal que você seja triste,
Não o ano todo, mas apenas um dia.
Mas que nesse dia descubra
Que o riso diário é bom,
O riso habitual é insosso e o riso constante é insano.


Desejo que você descubra ,
Com o máximo de urgência,
Acima e a respeito de tudo, que existem oprimidos,
Injustiçados e infelizes, e que estão à sua volta.


Desejo ainda que você afague um gato,
Alimente um cuco e ouça o joão-de-barro
Erguer triunfante o seu canto matinal
Porque, assim, você se sentirá bem por nada.


Desejo também que você plante uma semente,
Por mais minúscula que seja,
E acompanhe o seu crescimento,
Para que você saiba de quantas
Muitas vidas é feita uma árvore.


Desejo, outrossim, que você tenha dinheiro,
Porque é preciso ser prático.
E que pelo menos uma vez por ano
Coloque um pouco dele
Na sua frente e diga "Isso é meu",
Só para que fique bem claro quem é o dono de quem.


Desejo também que nenhum de seus afetos morra,
Por ele e por você,
Mas que se morrer, você possa chorar
Sem se lamentar e sofrer sem se culpar.


Desejo por fim que você sendo homem,
Tenha uma boa mulher,
E que sendo mulher,
Tenha um bom homem
E que se amem hoje, amanhã e nos dias seguintes,
E quando estiverem exaustos e sorridentes,
Ainda haja amor para recomeçar.
E se tudo isso acontecer,
Não tenho mais nada a te desejar ".