Tarde de Janeiro, toca o telefone. Um convite para uma entrevista num colégio a fim de falar sobre meu projeto de teatro. Lá fui eu para o Colégio Villa Lobos.
Entrei nervoso (estreia é sempre assim), ao adentrar à sala da coordenação, dois sorrisos simpáticos me receberam carinhosa e curiosamente. Senti-me completamente à vontade e a conversa se desenrolou de forma agradabilíssima. Projeto aprovado, novo trabalho a ser iniciado dentro dos próximos dias. Saí eufórico. Tão eufórico que confundi as datas e quase perdi o primeiro dia de aula, não fosse um telefonema de um desses sorrisos simpáticos. Lá fui eu correndo, enfrentando o trânsito do Paço Municipal feito um louco para chegar o quanto antes e redimir-me da falha.
Enfim cheguei (antes tarde do que nunca, neste caso) . Alguns pequenos me esperavam. Lindos, curiosos, agitadíssimos. Entrei, fechei a porta, sentamos em círculo e a magia se estabeleceu. Os olhos (meus e deles) brilharam. Encantamento se deu entre um ou outro olhar pedagogicamente bem dirigido. É preciso tempo até que as coisas se ajeitem e se acertem
Final de aula. Intervalinho e início de uma nova aula. Os adolescentes. Já ouviu falar em "bater o santo?" Pois foi de cara. Um olhar assustado, outro tímido, outro ávido por teatro, ensaio, arte. Um pouco mais de encantamento para o minha tarde, que se iniciou com correria. Saí de lá com a certeza de que realizar um trabalho de qualidade com aquela turma seria (e será) questão de tempo apenas.
O que se sucedeu nos encontros seguintes: Riso, choro, música, cena, abraço, estátua, respiração, jogo, roda, bola, flecha, parede, espiral, tato, olfato, paladar, visão e audição. Tudo isso preenchido com amor, carinho, felicidade, respeito ao próximo e uma pitada de poesia que permeia tudo o que faço. Como tenho sido feliz.
Ensinar um gesto de carinho e respeito, como o beijo na testa, a uma criança de 7 anos e depois de alguns dias receber como resposta um pedido de "abaixa!" seguido do gesto ensinado emociona qualquer um.
Ver o olhar de dois amigos se encontrar e o riso nervoso por medo de se exergar do outro lado desaparecer depois de ouvir a história e ver a lágrima do outro, terminando tudo num amistoso abraço entre dois meninos de não mais de 14 anos não é para qualquer um. É para privilegiados. Sou um privilegiado sim, neste caso não há dúvidas.
Tudo o que eu posso fazer é agradecer a cada uma dessas pessoas que fazem e farão cada vez mais minhas segundas e quintas à tarde mais felizes. Amanda, Ana Paula, Bia, Laís, João Renato, Henrique, Luana, Ana Carolina, Mari, Breno, Pietro, João, Leo, Tety, Nicolas, Geovani, Silmara, Rose, Elaine, cada pessoa que me retribui um sorriso, um boa tarde carinhoso, um aceno pela janela, tudo o que posso fazer é agradecer. É uma delícia estar no Villa!