sábado, 30 de março de 2013

Compartilhamento compulsivo



Há tempos venho percebendo certa alteração no comportamento de todos nós internautas brasileiros. Cada vez mais se compartilha imagens e informações, principalmente via facebook, ferramenta à qual vou me ater aqui, pois é aquela que costumo acompanhar com mais proximidade. Não sou psicólogo, sociólogo e logo não pretendo aqui falar de forma científica do assunto. Faço apenas uma reflexão de cunho pessoal, sintam-se à vontade para discordarem de mim; não é crime, nem pecado. 

Segundo o dicionário Aulete, compartilhar significa "Dividir", "Partilhar", "Ter ou tomar parte de", "Participar de". Realmente, a internet vem cada vez mais democratizando o acesso a informação, a meios de mobilização e as mais diversas formas de interação. Em virtude disso, muitas vozes outrora caladas, encontram no botão azul uma forma de aliviar a solidão ideológica. "Poxa vida, encontrei alguém que pensa como eu...". Quando era menino e escrevia meus poemas, sentia uma extrema solidão pois me sentia profundamente só e muito diferente da maioria. Tenho certeza de que as páginas do facebook que muitos dos adolescentes compartilham também seriam curtidas e compartilhadas por mim. Sob este prisma, o botão azul torna-se atividade saudável. Outro fator positivo é a possibilidade que estas diversas páginas promovem, mesmo que a conta gotas, de disseminar a obra e o talento de grandes escritores da literatura brasileira e mundial. Hoje, talvez seja mais fácil que um jovem saiba quem é Clarice Lispector do que na minha adolescência. Eu mesmo, que estudei em escola pública, só vim saber quem era Clarice a partir do terceiro ano do Ensino Médio e mais profundamente apenas na Universidade. 

E se há o aspecto positivo, certamente há o negativo, produzindo seus danos. Vejo que cada vez menos se expressa opiniões próprias em detrimento de compartilhar "imagens". Faça o teste você mesmo: Procure alguém da sua lista de amigos e confira o quanto de mensagens ele compartilha e o quanto de opiniões próprias ele dissemina. É claro que não prego aqui que o facebook vire um eterno debate público. Mas costumo ficar assustado quando visito páginas de amigos e nada vejo a respeito de sua própria ideologia ou feitos e vejo no lugar imagens, imagens e imagens, com frases curtas, muitas vezes períodos simples. Nem sempre a vida, as relações humanas em toda a sua complexidade podem ser resumidas em períodos simples e orações coordenadas. Dessa forma, cada vez se lê menos e se compartilha mais. Muitos dos amigos que tenho provavelmente viram o link para este texto compartilhado em minha página, mas não clicaram nele; dentre os que clicaram, ao verem o tamanho do texto muitos foram desencorajados a continuar a leitura por conta do tamanho do texto. Há também outro problema: Embora se conheça determinados autores, como disse no parágrafo anterior, por conhecer apenas frases descontextualizadas, muitos erros de interpretação podem ocorrer. O que pode ser perigoso. Pode-se se extrair qualquer frase, de quem quer que seja e atribuir-lhe o sentido que mais lhe convier. 

Não gosto muito de pensar em certo e errado, ou faça isso ou faça aquilo. E em relação a compartilhar, creio que a ferramenta é muito útil, mas recentemente peguei-me pensando a respeito de quanta informação eu costumo compartilhar e quanta coisa é realmente "coisa minha". Decidi tentar encontrar um equilíbrio. Rede social é lugar de interação e cada um em sua página tem o direito de agir da forma que desejar, arcando com as consequências desejadas e indesejadas de suas publicações. Mas vale a pena pensar: O quanto você compartilha? Será você mais um compartilhador compulsivo? Caso o seja e discorde de minha postagem, seja feliz e sinta-se à vontade para continuar agindo da forma que desejar. Eu, do lado de cá, decidi olhar para este comportamento que eu mesmo tenho de forma mais cautelosa. Afinal, embora compartilhar seja bom, ter opinião própria, ao menos para mim, ainda é fundamental. 


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