segunda-feira, 8 de abril de 2013

Carne de Língua (Diário de Bordo do Curso de Contação de Histórias) Aulas 1 e 2

Começo hoje, com três aulas de atraso meu diário de bordo do Curso de Formação de Contadores de Histórias, da Biblioteca Hans Christian Andersen. Assim como fiz em ECOS DO CAT, é mais uma reflexão acerca das atividades do que um resumo das aulas. Dei este nome aos registros que farei por causa do seguinte conto, da mestra Ana Luisa Lacombe, coordenadora do curso.



Aula 1:Aquele frio na barriga, um olhar meio que sem jeito para um ou outro colega, todo mundo um pouco tímido. É o começo, momento de saber um pouco mais sobre como seria o curso, as aulas e os professores que teríamos e ouvimos um pouco das histórias de cada colega de turma, sempre acho maravilhoso este momento.Mais uma vez sinto-me sortudo por estar participando de um cursos com pessoas donas de histórias lindas. Um grupo bastante heterogêneo, com gente de todos os tipos: bancários, professores, bibliotecários, atores, jornalistas, escoteiros, radialistas, conselheiros tutelares, diretores, gente que se encontrou pelo desejo de contar. Aprendamos e contemos!

Aula 2: Origens da Literatura Infantil (Marly Vidal), (O Compenetrado, o Sonolento e o Crítico)

Tudo começou quando três de mim saíram de casa em direção ao curso, após um delicioso café da manhã na padaria. Todos chegaram ao mesmo tempo, vieram de carro, ainda preocupados com o caminho e de olho no GPS, que desta vez não apontou o caminho errado. Chegamos e fomos direto ao auditório. Ana, nossa Mestra, Tati, sua fiel escudeira e Marly Vidal, senhorinha simpática e com ares de sábia já estavam nos aguardando. Ana fez as honras do dia apresentando Marly e os novos alunos da turma, logo depois, Marly iniciava sua aula.

O primeiro de mim gostou do que ouviu: "O professor é sempre um contador de histórias. É também um ator, às vezes frustrado, mas sempre um ator. É um vencedor lá no seu íntimo", O primeiro foi pego pela poesia e embarcou no discurso e na viagem proposta. Ouvi falar de Suassuna, que muito me agrada e do quanto ele é contaminado pela cultura ibérica. "O autor sempre se espelha em algo que já existe para construir seu discurso." Este EU anotou muitas frases no caderno, adoro os "entreaspas": 

" Somos enfeitiçados pela linguagem verbal, mas é ela que permite a expansão do universo"

A esta altura, outro de mim deu o ar de sua graça. O Sonolento, que havia dormido mal, insistia em querer fechar os olhos enquanto o outro, o Compenetrado lutava para permanecer de olhos abertos. Negociamos uma ida ao banheiro, água no rosto e na nuca a fim de acalmarmos o segundo. O que me rendeu ainda alguns minutos de tranquilidade.

Pude perceber como se dá a discriminação no Brasil, que advém das vergonha das origens populares e mestiças, da confusão entre popular e regionalista, palavra que Marly detesta, e a discriminação a autores sem preparo universitário (cada vez mais eu detesto a academia), falou um outro de mim, O Crítico. 

E enquanto eu descobria que a Literatura Infanto Juvenil surgira da cultura popular, mas sem saber ao certo onde se iniciou, o Segundo novamente quis dar o ar da graça, agora vindo para valer. Foi difícil permanecer desperto. Massagem na mão, nos olhos, no rosto, acelera a respiração, aguenta firme aí, companheiro, tenho muito o que aprender. 

O Crítico começou a achar que a professora, o datashow e a projeção poderiam ajudar um pouco, trazendo um pouco mais de emoção àquela história contada. Mas o Sonolento nem aí para a Hora do Brasil, vinha que vinha firme. 

Compenetrado vinha anotando e deparou-se com uma informação interessante: que na literatura infantil são importantes ferramentas os recursos teatrais (os quais adoro), redundâncias, tom exagerado, confidente e cúmplice e que através de numa linguagem acessível, trata de temas humanos e problemas universais, daí sem poderoso alcance. 

O Crítico aumentava seu tom tal qual o Sonolento, embora o Compenetrado seguia anotando, agora sobre os gêneros discursivos. 

O mito explica o inexplicável; A lenda, narrativa comumente em prosa cujo argumento é tirado da tradição oral com forte elementos da fantasia (lemos a letra do Açaí, enquanto O Crítico reclamava de não ter o texto inteiro na tela de projeção.), a fábula, que através da personificação dos animais procura trazer algum ensinamento (vimos várias versões de "A Cigarra e a Formiga", os Contos de fadas, que tratam de problemas existenciais utilizando-se o encantamento e os contos maravilhosos, da mesma família dos contos de fadas, mas que enfatizam o social, através de um cotidiano mágico, enfatizando o material e o sensorial.

A esta hora, os três já estavam num arrancarrabo num pegaprapar danado, mas teve seu fim a aula. Pelo menos, é assim que lembro do final. Pode ser que o Sonolento tenha ganho e em algum momento eu tenha perdido parte da aula ou determinadas informações, se isso ocorreu, terá sido uma pena. O que me  recordo é que levantei-me do auditório levando os três comigo, cada um com um só desejo: O de almoçar, porque já era tarde e o Brinquedo Torto me aguardava em Santo André para mais um final de semana de Gran Circo Pimienta.

E assim foi. 


2 comentários:

Grace Luciana disse...

Varlei, amei seu texto, tanto quanto amo seu trabalho...sua grande fã Grace Luciana Pereira

Varlei Xavier disse...

Muito obrigado, Grace!