quinta-feira, 30 de maio de 2013

Carne de Língua (Diário de Bordo do Curso de Formação de Contadores de Histórias) – Aula 10

A PALAVRA ENCARNADA DO CORPO DO CONTADOR
Leila Garcia (Bailarina, Atriz e Contadora de Histórias)

POLÊMICA! POLÊMICA! POLÊMICA!

A parábola do lápis


Um fabricante de lápis disse a cada um de seus lápis, numa reunião:
"Existem cinco coisas que vocês precisam saber antes de eu lhes enviar para o mundo. Lembrem-se sempre delas, e se tornarão os melhores lápis que puderem ser.

Primeira: Vocês poderão fazer grandes coisas, mas só se vocês permitirem-se estar seguros na mão de alguém.
Segunda: Vocês experimentarão um doloroso processo toda vez que forem afiados, mas precisarão passar por isso se quiserem se tornar lápis melhores.
Terceira: Vocês têm a habilidade de corrigir qualquer mal-entendido que porventura ocasionem.

Quarta: Sua parte mais importante sempre estará do lado de dentro.

Quinta: Não importa a condição, vocês devem continuar a escrever. Além disso, vocês devem sempre deixar uma marca clara e legível, não importa o quão difícil seja a situação."

Todos os lápis entenderam, prometendo lembrar-se sempre; entraram em sua respectiva caixa compreendendo completamente o propósito de seu fabricante.

Autor desconhecido

[Foi assim...]

HORA DE SER AFIADO, APONTADO!

Leila iniciou contando sua própria história, sua formação como bailarina, que logo a fez conhecer o teatro, migrar para esta área e aos poucos conhecer a cultura africana, a Antroposofia e a Pedagogia Waldorf. Algumas pessoas já comentaram sobre este tipo de pedagogia e após assistir a alguns vídeos no Youtube, me interesse aumentou mais ainda. 

E sai uma pérola, aquelas frases, que me fazem abaixar a cabeça com pressa em direção ao caderno para anotar e não esquecer mais. "Professor é uma coisa, Mestre é outra." De fato é. É este o caminho do qual estou em busca. Acho que sempre estive, mas hoje tenho certeza em cada átomo de meu corpo. 

"A palavra não está na boca. Ela é o ser humano". A partir desta afirmação, fomos conduzimos a (re)descobrir o corpo que somos, do qual muitas vezes só nos lembramos porque dói, ou porque estamos cansados, fomos instigados e provocados a descobrir o corpo da palavra, a palavra do corpo ou corpalavra, reflexões minhas. 

E toda Professora de Expressão Corporal tem Rigidez como sobrenome, não é mesmo Tica Lemos e Lídia Zózima e Alessandra Fioravanti? Cada uma a sua forma, mas a mesma essência de "Vamos lá, sem corpo mole!", para quem não conhece é assustador. Felizmente estou vacinado, as broncas de Tica, que já me fizeram chorar valeram muito. Afinal, "há que se ralar muito para encontrar seu próprio caminho." Leila veio nos trazer isso e não foi fácil. 

Atenção para a postura, pés paralelos, quadril encaixado, direciona a tíbia para a frente para evitar a hiperextensão do joelho, não sabia dessa: Perfeito! Um pouco mais, flexiona os joelhos várias vezes, deixa o corpo pronto, deixa vibrar, prontidão pura. Coreografia em circulo "Tere, tere, tere, tere... põe a mão no ombro do colega... Tere, tere, tere, tere...". Atingimos a experiência através do trabalho. 

E novamente a Síndrome da 5ª D. É burburinho, falação, piadinha jocosa, pouca escuta e pouca atenção a si próprio. Fica difícil, e com uma professora mais rígida é cutucar onça com vara curta. Começou a pesar. Sei que as questões corporais geram muito bloqueio, assim  também é comigo, mas é preciso boa vontade e coração aberto para superar as dificuldades. Não é isso que vivemos dizendo a nossas crianças? Mais uma vez me imagino sendo observado por meus alunos. Preciso ser como sempre exijo que sejam. 

Deixa o corpo expressar, não barra ou sabota o processo. "Vivemos num mundo muito cabeção. E quando se pensa muito, se pensa mal." PER FEI TO. E não bastasse isso, ouço mais uma. "Temos que dar na escola uma educação corporal, porque ela por si só já é uma educação dos sentidos." ÊXTASE: É NESTA EDUCAÇÃO QUE ACREDITO E É ELA QUE VENHO TENTADO DESENVOLVER NOS ÚLTIMOS ANOS"

Pausa para o café!

Parte 2 - Juntando tudo ou Saindo da Zona de Conforto ou Hora da Verdade ou O quanto de feedback você é capaz de suportar?

"Somos um corpo que narra". Ao narrar, é preciso ver o filme da história em sua tela mental e corporificar o que for preciso. "Quando movimentar-se conectar-se com seu centro." Alguns exercícios, novamente a Polêmica do Ser Ou Não Ser o  Personagem. E foi nessa hora que senti certo clima de animosidade entre alguns colegas de turma e professora. Leila tem suas convicções a as apresenta com energia, o vigor de seu corpalavra incomoda alguns. 

Durante um exercício, Leila age como diretora mandaando voltar, corrige, aponta, não é fácil, sei bem. Alguns colegas, sem terem tido essa experiência sentem-se desconfortáveis, o consciente barra, a situação piora um pouco mais. Argumentos daqui e dali, não cabe aqui juízo de valor de minha parte, entendo a dificuldade dos colegas, embora certa abertura para ouvir ou como diria Tica "Abre um HD novo aí dentro para a informação que está chegando..." podem ajudar muito. Leila também não é um doce, tem a rigidez das bailarinas, mas "disciplina é liberdade.". Alguns colegas se incomodam e já motivados pela pressa do horário estourado deixam a sala. A conversa continua, exercício também. E se antes fora parado no meio para correção, segue até seu fim. Considerações sobre a coerência da narrativa e a diluição do corpo no ato de narrar continuam colocando o dedo na ferida. Mas só crescemos quando somos colocados diante de conflitos e adversidades, zona de conforto é uma merda. Só eu sei o quanto sofri com alguns professores e hoje lhes sou extremamente grato, por tudo até pelos  seus desacertos. 

Até que ponto, nós enquanto contadores estamos com a escuta apurada, para ouvir o outro, o professor, o colega a agir e experienciar os ensinamentos que nos forem passados olhando para dentro e não fazendo piada dos outros e esquecendo de si próprios? E é completamente compreensível que se tenha dificuldades, que se sofra com as correções, precisamos ser apontados e dói, sei. Mas podemos fazer coisas incríveis se estivermos seguros nas mãos de alguém e sabemos que podemos apagar e corrigir o que fizermos. E que venham outros apontadores. De minha parte, estou pronto! Que saiamos deste aquário individual e enxergamos o mundo lá de fora. Mesmo que o nos corrijam com rigidez e vigor. 


E infelizmente precisei sair antes do fim, uma noite mal dormida, a fome, um trabalho que faria no sábado à noite motivaram minha saída. No almoço, sushi e sashimi regados a uma conversa maravilhosa com meu parceiro de grupo: o grande e genial Adilson França. 

[... e assim foi.]

Segue um vídeo sobre pedagogia Waldorf, que andei pesquisando. Estou cada vez mais interessado por isso.



Carne de Língua (Diário de Bordo do Curso de Formação de Contadores de Histórias) – Aula 9

REGISTRO ATRASADO!
(O Mês de maio anda corrido)


OS RECURSOS VOCAIS NO CONTAR (VOZ FALADA) 
Viviane Barrichelo

[Foi assim:]

Cheguei atrasado, nobre causa: Estréia do Núcleo 2 do Brinquedo Torto no Dia da Família do Colégio Central Casa Branca. Estréia e grupo novo é sempre aquela magia, aquele pisar nas nuvens, aquele dirigir com a cabeça não sei onde. Foi assim que cheguei à Biblioteca Hans Christian Andersen. Não sei o quanto consegui assimilar do que fazíamos e o que eu perdi, mas vamos lá. 

Quando adentrei à sala, falava-se das pausas que podem, entre muitas ações podem indicar lógica, dando sentido ao texto, serem psicológicas, causando efeitos ou serem apenas roubadas de ar. "Descubra a pontuação da história", dizia a simpática Viviane. É muito importante fazer as divisões de sentido, trabalho parecido com o de decoupagem de texto que fazemos no teatro. 

(Mas que beleza a apresentação, como é bom estar com aqueles meninos...) Opa! Volta para a aula, cabeça de Vento! 

Tom e frequência: Encontrar seu tom de partida, tom confortável, compatível com a fala do dia-dia, tom que pode ser alterado ou modificado durante a narração, mas com cautela. "Aprecie com moderação!" (Tela Azul) "Agravar demais ou agudizar demais pode prejudicar a saúde!" 

Vários exercícios de leitura e intenção, toda a turma experimentando suas próprias possibilidades vocais. Bonito ver como cada um encontra forma de soar seu próprio instrumento. 

Envelhecimento: Quando envelhecemos, vovôs ficam com a voz mais aguda; vovós, mais graves. bonito pensar nisso! 

(Quanta emoção vivi hoje, ainda estou com vontade de chorar...) Planeta Terra chamando! Planeta terra chamando! 

Às vezes, para mudar o tom não é preciso grande esforço, só mudar a posição dos ressonadores: bico ou sorriso mudam o tom. Uma única voz traz uma infinidade de recursos e efeitos. O texto, e os elementos nele presentes é que determinam a voz que você utiliza. Mais uma vez recupero coisas que já havia visto no teatro. Atenção para as nuances, que colorem o texto e para sua curva melódica. É isso que encanta em bons contadores e atores. 

Durante a oficina, Viviane nos presenteou com histórias interessantes, as quais quero pesquisar. Aqui estão algumas:

Janjão e Pinote 

Topeira com cocô na cabeça

TV e o Menino

E já era tempo de encerrar a oficina. Para mim, foi curto, meu registro também. Gostei muito do trabalho vocal desta contadora. É uma voz mais agudizada, mas a meu ver, muito bem colocada.

[... e assim foi.]

quarta-feira, 22 de maio de 2013

Tempo de Escola - Teatro Maluco e Duas Faces.


Desperta o relógio às 6:10 da manhã. "Só mais 10, 15, não mais que 20 ou 30 minutos... Pera aí: hoje é quarta-feira, dia de transbordar o coração, dia de sorrisos abertos e abraços apertados; dia de brilho nos olhos, de se sentir amado, de aproveitar cada minuto e ter a sensação de que você é útil e faz alguma coisa por esse mundo." Pega então seu carro, enfrenta um trânsito danado, vem cantando, ouvindo notícias e relembrando o que planejou que o tempo passa voando. E começa, logo termina, almoça, começa de novo e logo termina outra vez. Tudo passa tão rápido quando estou com vocês. O tempo voa, não vejo e não faço metade do que queria, porque tudo rende muito. E numa roda despretensiosa na penumbra de uma pequena sala é que a magia acontece. Alguém propõe um carinho, um afago em forma de canção, que vira coro. Um coro de vozes cheias de pureza e doçura cantando "Se todos fossem iguais a você...". Silêncio, mão na cabeça, "Sério que é pra mim isso? Obrigado, Você Aí de Cima, obrigado por me colocar diante de gente tão linda, tão especial, que transborda amor e faz da minha quarta um dia muito feliz. Que eu possa retribuir metade do que recebo... Obrigado, muito obrigado e só." E mesmo eu, que faço os outros chorarem, rendo-me ao amor que bate à porta dos meus olhos e desce em forma de pingos salgados, reação química resultante da rigidez de um bastão, o lirismo de um tecido colorido, vozes dissonantes e o olhar de um menino grande que outrora visto como chato pelos colegas é hoje exemplo, referência e encontrou enfim razão de ser e lugar no mundo. No caminho de volta, só posso ouvir mil vezes a mesma canção, agradecer outras mil e chorar mais um pouco. E para deixar eterno esse momento, este dia mágico, resolvi deixar aqui escrito esse aglomerado de palavras sem parágrafo, transbordando da caixa de texto, como de amor transborda meu peito. 
Amo vocês, pequenos... 
Obrigado por fazerem meu sonho realidade a cada dia... 
Beijo na testa!
 — com Ana Carolina Scaldelai e outras 9 pessoas.
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sexta-feira, 17 de maio de 2013

Carne de Língua (Diário de Bordo do Curso de Formação de Contadores de Histórias) – Aula 8

A voz cantada para ajudar a contar

Aula de Anita Deixler [Foi assim...]

"Estamos diante de uma Deusa" - disse Antônio Rosa ao final da aula. Uma Deusa da Voz, diria eu. Anita nos brindou com elegância, amor e delicadeza do início ao fim. Foi cantora do Teatro Municipal de São Paulo e depois de 30 anos, prestes a se aposentar, decidiu dedicar-se exclusivamente às aulas de canto, função que já desempenhava há anos. 

Já no início da aula uma linda descoberta: "O homem pré-histórico começou cantando, imitando o som dos bichos e não articulando fala.". Embora tenha entendido a colocação de Anita, minha imaginação flutua pensando numa época em que Neanderthal, Erectus e Sapiens cantarolando por aí. E como se não houvesse entendido, imagino agora um homem das cavernas cantando "Vou te contar, os olhos já não podem ver...". Muito bobo...

Senhoras e senhores, a prega vocal: é ela que nos protege de engasgamentos e de sobre é a responsável pela criação dos sons. O ar passa, ela vibra e a magia acontece. Mas tudo parte da respiração. "Se não há pressão de ar, não há som". O cantar e o falar estão na expiração. Não se fala inspirando.

"Às vezes a voz é mais forte do que o visual. É sua impressão digital.". "Encontre seu próprio timbre e ninguém contará histórias como você." E se essas frases já são por si só potentes, na divina voz de Anita, ganham ainda mais força.

Depois de um pouco de teoria, exercícios de respiração e aquecimento vocal. Sinto-me confortável. Para cantar, a voz entra pelo nariz e pela boca. Isso prova realmente que Mapa é Mapa. No Yôga, a respiração é praticamente o tempo todo nasal.

Ter consciência do aparelho fonador é algo belíssimo. Fechar ou não fechar a glote para falar ou cantar. Diferença significativa. Atenção sempre para os registros: Voz de peito, mista e de cabeça. Em notas agudas, a voz é de cabeça, principalmente nas meninas. Salmodiar é um bom exercício.

E foi, aos poucos, quando menos se percebeu, a turma animada e interessada na aula foi se transformando numa galera de dar inveja a qualquer 5ªD ou 6ªF. Qual é o limite de conversa e da bagunça? Se contar histórias é um exercício de fala e escuta, qual limite e qual a hora de discernir entre um e outro? Sempre me pego imaginando meus alunos me vendo como aluno. "Preciso fazer aquilo que sempre lhes peço. Se peço atenção, escuta e foco, não posso agir diferente.". Claro, nem sempre ordem é progresso, mas nem tanto ao céu nem tanto à terra. E Anita é uma Lady, age com delicadeza, pena nem todos captarem a sutileza das "broncas" dadas por ela.

Ouvimos "O Messias", de Hendell ilha de paz em meio a ruidosa sala. Atenção para a Magia das Vogais. São elas que dão cor ao som. Sinestesia é tudo.

Vasculho meu caderno em busca de anotações para dar lógica ao registro e encontro mais duas vezes anotadas a frase "Onde está a escuta?. Elas dão o tom do que senti em vários momentos.

E fomos nós ouvirmos as vozes dos colegas. Lindas vozes, mesmo tímidas, bom ouvir, muito esclarecedor. Alguns mais tímidos, outros mais soltos, emoção rolou, fui um dos últimos e descobri que som um baixo barítono, com um tal de basal, que é um grave quase arroto.

E toda essa conversa durou até as 15:25, quando então, apenas 13 alunos ficaram para a despedida.  Quase uma hora e meia após o término oficial da aula, finalmente as vozes, todas elas se calaram e tomaram seus próprios caminhos, não sem antes, muito abraço na Deusa da Voz, que nos presenteou com ensinamentos, carinho, simpatia e som.

Ia colocar alguma música do soundcloud da Anita (soundcloud.com/anitadeixler) aqui, mas acho que melhor homenagem não teria do que eu colocar um vídeo que vi esta semana e acho que vale a pena ouvir milhões de vezes.

[E assim foi...]



segunda-feira, 6 de maio de 2013

Carne de Língua (Diário de Bordo do Curso de Formação de Contadores de Histórias) – Aula 7

[Foi assim:]

Recupero minhas anotações deste sábado. Passo os olhos por cima para ver se esqueci de algo. Provavelmente terei me deixado de anotar coisa importante. Sou um pouco “Adélia esquecida”. Confesso que não sou muito visual. Adélia também não. A menina sempre esquece alguma coisa antes de sair de casa. Sou bem assim. Tal característica não deixaria de se apresentar neste registro.

Nosso sábado começou bem nutrido pela história cantada por Ana Lu. Ah, Adélia. Tão Varlei essa menina. Tão Varlei que esquece tudo, mas não o afeto. Linda história, que aqueceu meu coração. Ficaria o dia inteiro ouvindo as histórias da Mestra. Quero ser assim quando crescer.

Pronto, já esqueci algo que veio antes da história. Varlei esquecido. A conversa sobre o violão. Quando Ana Lu pegou o violão para afinar, um colega de turma pensou alto: “A gente poderia aprender.” Ouvimos de Ana que podíamos sim aprender, mas a pesquisa do violão era uma outra viagem, viagem de uma vida inteira. E que quanto mais recursos forem postos numa história, mais seguro se deve estar de cada um deles e estuda-los isoladamente. “Cuidado para não subir ao seu nível de incompetência.”, frase que Ana Lu ouviu quando pequena e que vale a pena refletir sobre.

Relatórios entregues, reflexão e devolutiva das análises. Parece que alguns colegas assistiram coisas “não tão legais”, diria eu. Voz colocada de forma inadequada, falta de nuance na narrativa. “O texto tem que criar forma na boca do contador”. Isso muito ainda me falta. “O contador deve estudar, estudar e estudar.”. Ana é um exemplo de disciplina. Estuda e pesquisa tanto que dificilmente sobe ao seu nível de incompetência.

Sinto que a fala já ecoa no trabalho que venho desenvolvendo, mas ainda falta muito para que os ecos internos se apresentem externamente na hora da história. Trabalho, muito trabalho então, para que isso possa surtir efeito. 

Sobre as interrupções, interferências e participações. “Se a criança levantar o dedo, ela está toda na sua.” Existem várias formas de participar. Ouvir e acompanhar é também uma baita interação. Não é preciso o tempo todo incitar e pedir que participem, até porque às vezes a participação será tão intensa que a narrativa se perde. Achar este meio termo entre não ignorar a criança no ato da história e não superestimar a participação é uma habilidade que o curso não nos dará. Só a experiência. E quando perder o fio por causa da participação, uma boa maneira de retomá-la é perguntar: “Onde é que a gente tinha parado mesmo?”. Outra informação importante: às vezes, conversar antes da história é uma boa forma de esvaziar o público, para preenchê-lo com a narrativa.

Muito cuidado com a maneira que se prepara o público para a história. Preciso me atentar a isso. A preparação é para o que vem. Não adianta aquecer com uma música hiper agitada se a história pede sensibilidade. Atenção também para os recursos visuais, figurinos e similares. Tudo precisa estar conectado à narrativa. Caso contrário, são estímulos desnecessários, que desviam a atenção dos ouvintes. Não se pode, ainda, ter dúvidas da sequência das ações.

Paramos para o lanche e lá fomos nós para a conversa regada a sucos, bolos e tortas.

Parte dois. A Estrutura da Narrativa – A Jornada do Herói. Segue imagem interessante e que resume com qualidade minhas anotações mais técnicas.

             

Conhecer a história. Ler algumas vezes em voz alta e depois abandonar o texto. Dividir a narrativa em sequência de ações, com nomes claros e óbvios. Já estou, de certa forma, fazendo isso quando uso os mapas mentais. Dar cor, cheiro e som à unidade. Estudar separadamente como contar cada unidade e ir juntando todas elas aos poucos.

Ana disse que alguns autores defendem que a matéria prima do contador de histórias é o conto popular e não o conto de autor, ponto final. Ana respeita, discorda e eu também. Esses acadêmicos, catedráticos, cheios de suas teorias, mãos no queixo e análises disso e daquilo... Lembrando Veríssimo e colocando-o neste contexto: “A gramática tem de apanhar todo adia para saber quem é que manda.”. E que a teoria sirva e potencialize a prática sempre.

Muito mais coisa foi dita, decerto, mas Varlei Esquecido deixou de anotar. Vale, contudo, transcrever minha última anotação feita durante a aula:

“Esqueço de anotar pelo magnetismo da professora.”

Era hora de reunirmos em grupo e conversarmos sobre a escolha de nossa história. Tudo estava nebuloso, até que nossa amiga Angélica abriu um de seus livros e nos leu “João Bobão e a Princesa Chifruda.” A história tinha tudo aquilo que procurávamos. E chegamos a um consenso. Não vejo a hora de começar a ensaiar.

Corremos para arrumar as coisas e ir rápido para São Caetano, ouvir a contação de O Grifo, que nossa professora faria no SESC. Antes disso, fomos capturados pelas narrativas de nossos amigos. Duas lindas histórias. “Era disso que eu estava sentindo falta.”, completei. Sugeri que fizéssemos isso todos os sábados, após o curso. Certamente será muito enriquecedor.

Corremos para São Caetano e chegamos em cima da hora para assistir a narração de O Grifo, história que Ana ouviu da mãe, que ouviu da avó, que ouviu da bisavô, que ouviu da tetravó. Linda história, não vou elogiar outra vez, pode parecer que estou puxando demais o saco. Saímos de lá, Raquel, Cláudia e eu, nas nuvens, nem lembrávamos de onde havíamos colocado meu carro, ficamos um bom tempo andando e procurando. Daria uma narrativa atrapalhada. Quem sabe um dia escrevo. Era quase cinco da tarde, hora de almoçar. Almoço tardio, que valeu a pena sê-lo pelo agradável dia que tivemos.

[... e assim foi.]

E segue uma contação de Giba Pedrosa, que todo mundo adora:

quarta-feira, 1 de maio de 2013

Carne de Língua (Diário de Bordo do Curso de Formação de Contadores da Histórias) Aula 6

Havia chegado a hora."O jogo simbólico da criança". Desde a 3ª aula estou esperando o retorno da Maga e minha sede de saber seria saciada. Saí de casa com minha noiva e entupi o carro com minhas expectativas (novamente elas). O caminho pareceu mais curto, nem me lembro da canção que tocava no rádio. Enfim, adentrava o auditório da Hans cheio de brilho nos olhos. Comentei com ela sobre minha ansiedade e ela respondeu dizendo que faria uma experiência. Uauu! Adoro aulas em que o experimentalismo do professor se apresenta. "Eu também sou tão experimental...", pensei. Seria ótimo. 

Para mim era um espetáculo. Pareceu-me ouvir até o terceiro sinal. Falou-se algo sobre Edgard Morin, mas não lembro o que foi. Sei que já ouvi falar muito bem dele, que ele vem sempre ao Brasil, dá palestras no SESC e que é um homem bastante simples. "Da próxima vez tenho de anotar direito", penso agora. 

Começamos com um assunto que já conhecia. Os três níveis, ou três cérebros. Assunto recorrente em meus estudos de PNL e Mecânica Quântica. O assunto não apresentava novidade, embora as informações fossem bastante ricas. Depois, os hemisférios cerebrais, outro assunto que já conhecia e foi bom rever. E, vez por outra, a Maga lançava uma das suas frases mágicas. "O Contador de histórias é o corpo caloso do cérebro". Corpo caloso: parte do cérebro que une o hemisfério direito ao esquerdo. Não vou discorrer aqui sobre a função de cada um. Este registro serve como material de fixação dos conteúdos aprendidos e sobre este já conheço. Talvez precise aprofundar-me um pouco mais, mas hoje, perdoem-me os colegas, optei por fazer uma viagem um tanto diferente em direção ao passado. Até o estilo me foi. E adianto que serei um pouco mais pungente. 


Em dado momento, talvez antes de se falar sobre o cérebro propriamente dito, Eli nos contou que há neurônios também em nosso intestino. "Acho que finalmente entendi por que penso tanta merda.". Disse que seria mais cáustico, não disse?

Mais uma vez fui traído por minhas anotações inespecíficas. Meu caderno diz "História Sujinha da Eli". Lembro que houve uma história, mas não consigo recordar-me dela. Outra vez percebo que os recados da Senhorita Escuta para a Dona Memória devem ser mais específicos.

Um pouco de sono... 

Disse ela: "Estamos criando uma geração de sociopatinhas". Concordo plenamente. Nossas crianças cada vez mais têm dificuldade de viver em comunidade. Filhos únicos, príncipes e princesas mandões, com dragões interiores, impetuosos e ferozes. Que o contador de história possa trazer a coruja adormecida dentro de cada um...

Sono...  

Outras frases importantes ou o que consegui captar delas: 

"Mito e realidade são valores dinâmicos". "O triste é que as religiões tentam a todo o custo transformar o mito em realidade histórica.". E o quão duro é conversar sobre isso com pessoas cujo credo (seja ele qual for) as impeça de discutir o assunto sem gerar conflito ou ruptura. Cada vez mais, assunto complicado. Sei bem... 

Muito sono. Devia ter dormido mais cedo

"Quem fica sem narrativa, cai pelas beiradas da existência humana". Nada mais verdadeiro e poético. "É preciso honrar a criança e o adulto que há em nós." I couldn´t agree more. "Atenção para a radicalização do herói." Vivemos uma sociedade em que o herói e super valorizado, isso talvez também potencialize a hiperatividade da criança. Nunca havia pensado nisso, mas faz sentido. E quem sabe eu ande contribuindo para tal. É algo a se pensar.

Intervalo, comidinha e conversa com os amigos. "Nossa, que salada de frutas bonita." Parei para conversar com alguém e quando voltei "A salada de fruta devia estar boa. Logo acabou..." 

Pós intervalo: Fases do Desenvolvimento da Consciência Individual e Coletiva. Rocambole de Jung, Neuman e Whitmond preparado por Eliana. 

Fase Matriarcal ou Fase Mágica: Até os 4 anos aproximadamente. Tudo gira em torno do mundo da mãe. Relação com os Mitos de Criação. 

Transição ou Fase Mitológica: 4 anos até puberdade. Relação de desejo entre mãe e filho consorte (Sófocles já sabia) e transição para o Politeísmo Patriarcal (Até chegar a um pai celeste e Abstrato)

Patriarcal ou Mental: A partir da Puberdade. Fase Egóica e Mental, onde a mente é o árbitro supremo. Grande repressão de desejos e radicalização do herói.

E já era hora de dar tchau. Um tiquinho de decepção me tomou. Mas e o Jogo Simbólico? E a Psicanálise dos Contos de Fadas? E aquela ideia interessante de que o contador de história precisa conhecer o simbólico da de cada público para escolher melhor a história? Ok, eu entendi as três fases. Mas não há algo mais? Certamente há, mas ficou por nossa conta... 

Lógico. Expectativas foram quebradas. Particularmente, eu teria passado mais superficialmente pelos hemisférios cerebrais a fim de ter um pouco mais de tempo para discutir o jogo simbólico. Vim querendo muito mais, assumo, saio com mais sede. Mas o processo de ensino e aprendizagem tem dessas. Na primeira não esperava muito e foi ótimo, nesta esperava muito mais, porém não foi. A vida é assim. E este registro é apenas uma reflexão pessoal. Não tenho o intuito de julgar a professora. Mas lógico, fui transbordando de ansiedade, e ficou aquele gostinho de "queria mais..." Alguns coleguinhas também.

Depois, antes de irmos ao SESC, uma conversinha com meus parceiros de grupo, gente agradável e paciente, que me ouviu contando a história do "Mendigo Sonhador". A mesma reação de sempre. Fomos então ao SESC, onde comemos uma comidinha deliciosa e depois nos deliciamos com a Contação de nossa Grande professora Simone. E não é que havia uma história parecida com a minha no repertório do dia?

Se ela pode, porque eu não posso, Angélica, Raquel e Adilson? 
huahauhauahuahuahauahuahuahauahuahuahau

E assim foi...

Hoje vou de Rolando Boldrin, com um causo delicioso. Canalha como fui hoje.