sexta-feira, 17 de maio de 2013

Carne de Língua (Diário de Bordo do Curso de Formação de Contadores de Histórias) – Aula 8

A voz cantada para ajudar a contar

Aula de Anita Deixler [Foi assim...]

"Estamos diante de uma Deusa" - disse Antônio Rosa ao final da aula. Uma Deusa da Voz, diria eu. Anita nos brindou com elegância, amor e delicadeza do início ao fim. Foi cantora do Teatro Municipal de São Paulo e depois de 30 anos, prestes a se aposentar, decidiu dedicar-se exclusivamente às aulas de canto, função que já desempenhava há anos. 

Já no início da aula uma linda descoberta: "O homem pré-histórico começou cantando, imitando o som dos bichos e não articulando fala.". Embora tenha entendido a colocação de Anita, minha imaginação flutua pensando numa época em que Neanderthal, Erectus e Sapiens cantarolando por aí. E como se não houvesse entendido, imagino agora um homem das cavernas cantando "Vou te contar, os olhos já não podem ver...". Muito bobo...

Senhoras e senhores, a prega vocal: é ela que nos protege de engasgamentos e de sobre é a responsável pela criação dos sons. O ar passa, ela vibra e a magia acontece. Mas tudo parte da respiração. "Se não há pressão de ar, não há som". O cantar e o falar estão na expiração. Não se fala inspirando.

"Às vezes a voz é mais forte do que o visual. É sua impressão digital.". "Encontre seu próprio timbre e ninguém contará histórias como você." E se essas frases já são por si só potentes, na divina voz de Anita, ganham ainda mais força.

Depois de um pouco de teoria, exercícios de respiração e aquecimento vocal. Sinto-me confortável. Para cantar, a voz entra pelo nariz e pela boca. Isso prova realmente que Mapa é Mapa. No Yôga, a respiração é praticamente o tempo todo nasal.

Ter consciência do aparelho fonador é algo belíssimo. Fechar ou não fechar a glote para falar ou cantar. Diferença significativa. Atenção sempre para os registros: Voz de peito, mista e de cabeça. Em notas agudas, a voz é de cabeça, principalmente nas meninas. Salmodiar é um bom exercício.

E foi, aos poucos, quando menos se percebeu, a turma animada e interessada na aula foi se transformando numa galera de dar inveja a qualquer 5ªD ou 6ªF. Qual é o limite de conversa e da bagunça? Se contar histórias é um exercício de fala e escuta, qual limite e qual a hora de discernir entre um e outro? Sempre me pego imaginando meus alunos me vendo como aluno. "Preciso fazer aquilo que sempre lhes peço. Se peço atenção, escuta e foco, não posso agir diferente.". Claro, nem sempre ordem é progresso, mas nem tanto ao céu nem tanto à terra. E Anita é uma Lady, age com delicadeza, pena nem todos captarem a sutileza das "broncas" dadas por ela.

Ouvimos "O Messias", de Hendell ilha de paz em meio a ruidosa sala. Atenção para a Magia das Vogais. São elas que dão cor ao som. Sinestesia é tudo.

Vasculho meu caderno em busca de anotações para dar lógica ao registro e encontro mais duas vezes anotadas a frase "Onde está a escuta?. Elas dão o tom do que senti em vários momentos.

E fomos nós ouvirmos as vozes dos colegas. Lindas vozes, mesmo tímidas, bom ouvir, muito esclarecedor. Alguns mais tímidos, outros mais soltos, emoção rolou, fui um dos últimos e descobri que som um baixo barítono, com um tal de basal, que é um grave quase arroto.

E toda essa conversa durou até as 15:25, quando então, apenas 13 alunos ficaram para a despedida.  Quase uma hora e meia após o término oficial da aula, finalmente as vozes, todas elas se calaram e tomaram seus próprios caminhos, não sem antes, muito abraço na Deusa da Voz, que nos presenteou com ensinamentos, carinho, simpatia e som.

Ia colocar alguma música do soundcloud da Anita (soundcloud.com/anitadeixler) aqui, mas acho que melhor homenagem não teria do que eu colocar um vídeo que vi esta semana e acho que vale a pena ouvir milhões de vezes.

[E assim foi...]



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