segunda-feira, 6 de maio de 2013

Carne de Língua (Diário de Bordo do Curso de Formação de Contadores de Histórias) – Aula 7

[Foi assim:]

Recupero minhas anotações deste sábado. Passo os olhos por cima para ver se esqueci de algo. Provavelmente terei me deixado de anotar coisa importante. Sou um pouco “Adélia esquecida”. Confesso que não sou muito visual. Adélia também não. A menina sempre esquece alguma coisa antes de sair de casa. Sou bem assim. Tal característica não deixaria de se apresentar neste registro.

Nosso sábado começou bem nutrido pela história cantada por Ana Lu. Ah, Adélia. Tão Varlei essa menina. Tão Varlei que esquece tudo, mas não o afeto. Linda história, que aqueceu meu coração. Ficaria o dia inteiro ouvindo as histórias da Mestra. Quero ser assim quando crescer.

Pronto, já esqueci algo que veio antes da história. Varlei esquecido. A conversa sobre o violão. Quando Ana Lu pegou o violão para afinar, um colega de turma pensou alto: “A gente poderia aprender.” Ouvimos de Ana que podíamos sim aprender, mas a pesquisa do violão era uma outra viagem, viagem de uma vida inteira. E que quanto mais recursos forem postos numa história, mais seguro se deve estar de cada um deles e estuda-los isoladamente. “Cuidado para não subir ao seu nível de incompetência.”, frase que Ana Lu ouviu quando pequena e que vale a pena refletir sobre.

Relatórios entregues, reflexão e devolutiva das análises. Parece que alguns colegas assistiram coisas “não tão legais”, diria eu. Voz colocada de forma inadequada, falta de nuance na narrativa. “O texto tem que criar forma na boca do contador”. Isso muito ainda me falta. “O contador deve estudar, estudar e estudar.”. Ana é um exemplo de disciplina. Estuda e pesquisa tanto que dificilmente sobe ao seu nível de incompetência.

Sinto que a fala já ecoa no trabalho que venho desenvolvendo, mas ainda falta muito para que os ecos internos se apresentem externamente na hora da história. Trabalho, muito trabalho então, para que isso possa surtir efeito. 

Sobre as interrupções, interferências e participações. “Se a criança levantar o dedo, ela está toda na sua.” Existem várias formas de participar. Ouvir e acompanhar é também uma baita interação. Não é preciso o tempo todo incitar e pedir que participem, até porque às vezes a participação será tão intensa que a narrativa se perde. Achar este meio termo entre não ignorar a criança no ato da história e não superestimar a participação é uma habilidade que o curso não nos dará. Só a experiência. E quando perder o fio por causa da participação, uma boa maneira de retomá-la é perguntar: “Onde é que a gente tinha parado mesmo?”. Outra informação importante: às vezes, conversar antes da história é uma boa forma de esvaziar o público, para preenchê-lo com a narrativa.

Muito cuidado com a maneira que se prepara o público para a história. Preciso me atentar a isso. A preparação é para o que vem. Não adianta aquecer com uma música hiper agitada se a história pede sensibilidade. Atenção também para os recursos visuais, figurinos e similares. Tudo precisa estar conectado à narrativa. Caso contrário, são estímulos desnecessários, que desviam a atenção dos ouvintes. Não se pode, ainda, ter dúvidas da sequência das ações.

Paramos para o lanche e lá fomos nós para a conversa regada a sucos, bolos e tortas.

Parte dois. A Estrutura da Narrativa – A Jornada do Herói. Segue imagem interessante e que resume com qualidade minhas anotações mais técnicas.

             

Conhecer a história. Ler algumas vezes em voz alta e depois abandonar o texto. Dividir a narrativa em sequência de ações, com nomes claros e óbvios. Já estou, de certa forma, fazendo isso quando uso os mapas mentais. Dar cor, cheiro e som à unidade. Estudar separadamente como contar cada unidade e ir juntando todas elas aos poucos.

Ana disse que alguns autores defendem que a matéria prima do contador de histórias é o conto popular e não o conto de autor, ponto final. Ana respeita, discorda e eu também. Esses acadêmicos, catedráticos, cheios de suas teorias, mãos no queixo e análises disso e daquilo... Lembrando Veríssimo e colocando-o neste contexto: “A gramática tem de apanhar todo adia para saber quem é que manda.”. E que a teoria sirva e potencialize a prática sempre.

Muito mais coisa foi dita, decerto, mas Varlei Esquecido deixou de anotar. Vale, contudo, transcrever minha última anotação feita durante a aula:

“Esqueço de anotar pelo magnetismo da professora.”

Era hora de reunirmos em grupo e conversarmos sobre a escolha de nossa história. Tudo estava nebuloso, até que nossa amiga Angélica abriu um de seus livros e nos leu “João Bobão e a Princesa Chifruda.” A história tinha tudo aquilo que procurávamos. E chegamos a um consenso. Não vejo a hora de começar a ensaiar.

Corremos para arrumar as coisas e ir rápido para São Caetano, ouvir a contação de O Grifo, que nossa professora faria no SESC. Antes disso, fomos capturados pelas narrativas de nossos amigos. Duas lindas histórias. “Era disso que eu estava sentindo falta.”, completei. Sugeri que fizéssemos isso todos os sábados, após o curso. Certamente será muito enriquecedor.

Corremos para São Caetano e chegamos em cima da hora para assistir a narração de O Grifo, história que Ana ouviu da mãe, que ouviu da avó, que ouviu da bisavô, que ouviu da tetravó. Linda história, não vou elogiar outra vez, pode parecer que estou puxando demais o saco. Saímos de lá, Raquel, Cláudia e eu, nas nuvens, nem lembrávamos de onde havíamos colocado meu carro, ficamos um bom tempo andando e procurando. Daria uma narrativa atrapalhada. Quem sabe um dia escrevo. Era quase cinco da tarde, hora de almoçar. Almoço tardio, que valeu a pena sê-lo pelo agradável dia que tivemos.

[... e assim foi.]

E segue uma contação de Giba Pedrosa, que todo mundo adora:

Um comentário:

Quel Magda disse...

Ameiii!!! Como sempre nos fazedo reviver a aula!!! Bj e até sábado!!!