quinta-feira, 30 de maio de 2013

Carne de Língua (Diário de Bordo do Curso de Formação de Contadores de Histórias) – Aula 10

A PALAVRA ENCARNADA DO CORPO DO CONTADOR
Leila Garcia (Bailarina, Atriz e Contadora de Histórias)

POLÊMICA! POLÊMICA! POLÊMICA!

A parábola do lápis


Um fabricante de lápis disse a cada um de seus lápis, numa reunião:
"Existem cinco coisas que vocês precisam saber antes de eu lhes enviar para o mundo. Lembrem-se sempre delas, e se tornarão os melhores lápis que puderem ser.

Primeira: Vocês poderão fazer grandes coisas, mas só se vocês permitirem-se estar seguros na mão de alguém.
Segunda: Vocês experimentarão um doloroso processo toda vez que forem afiados, mas precisarão passar por isso se quiserem se tornar lápis melhores.
Terceira: Vocês têm a habilidade de corrigir qualquer mal-entendido que porventura ocasionem.

Quarta: Sua parte mais importante sempre estará do lado de dentro.

Quinta: Não importa a condição, vocês devem continuar a escrever. Além disso, vocês devem sempre deixar uma marca clara e legível, não importa o quão difícil seja a situação."

Todos os lápis entenderam, prometendo lembrar-se sempre; entraram em sua respectiva caixa compreendendo completamente o propósito de seu fabricante.

Autor desconhecido

[Foi assim...]

HORA DE SER AFIADO, APONTADO!

Leila iniciou contando sua própria história, sua formação como bailarina, que logo a fez conhecer o teatro, migrar para esta área e aos poucos conhecer a cultura africana, a Antroposofia e a Pedagogia Waldorf. Algumas pessoas já comentaram sobre este tipo de pedagogia e após assistir a alguns vídeos no Youtube, me interesse aumentou mais ainda. 

E sai uma pérola, aquelas frases, que me fazem abaixar a cabeça com pressa em direção ao caderno para anotar e não esquecer mais. "Professor é uma coisa, Mestre é outra." De fato é. É este o caminho do qual estou em busca. Acho que sempre estive, mas hoje tenho certeza em cada átomo de meu corpo. 

"A palavra não está na boca. Ela é o ser humano". A partir desta afirmação, fomos conduzimos a (re)descobrir o corpo que somos, do qual muitas vezes só nos lembramos porque dói, ou porque estamos cansados, fomos instigados e provocados a descobrir o corpo da palavra, a palavra do corpo ou corpalavra, reflexões minhas. 

E toda Professora de Expressão Corporal tem Rigidez como sobrenome, não é mesmo Tica Lemos e Lídia Zózima e Alessandra Fioravanti? Cada uma a sua forma, mas a mesma essência de "Vamos lá, sem corpo mole!", para quem não conhece é assustador. Felizmente estou vacinado, as broncas de Tica, que já me fizeram chorar valeram muito. Afinal, "há que se ralar muito para encontrar seu próprio caminho." Leila veio nos trazer isso e não foi fácil. 

Atenção para a postura, pés paralelos, quadril encaixado, direciona a tíbia para a frente para evitar a hiperextensão do joelho, não sabia dessa: Perfeito! Um pouco mais, flexiona os joelhos várias vezes, deixa o corpo pronto, deixa vibrar, prontidão pura. Coreografia em circulo "Tere, tere, tere, tere... põe a mão no ombro do colega... Tere, tere, tere, tere...". Atingimos a experiência através do trabalho. 

E novamente a Síndrome da 5ª D. É burburinho, falação, piadinha jocosa, pouca escuta e pouca atenção a si próprio. Fica difícil, e com uma professora mais rígida é cutucar onça com vara curta. Começou a pesar. Sei que as questões corporais geram muito bloqueio, assim  também é comigo, mas é preciso boa vontade e coração aberto para superar as dificuldades. Não é isso que vivemos dizendo a nossas crianças? Mais uma vez me imagino sendo observado por meus alunos. Preciso ser como sempre exijo que sejam. 

Deixa o corpo expressar, não barra ou sabota o processo. "Vivemos num mundo muito cabeção. E quando se pensa muito, se pensa mal." PER FEI TO. E não bastasse isso, ouço mais uma. "Temos que dar na escola uma educação corporal, porque ela por si só já é uma educação dos sentidos." ÊXTASE: É NESTA EDUCAÇÃO QUE ACREDITO E É ELA QUE VENHO TENTADO DESENVOLVER NOS ÚLTIMOS ANOS"

Pausa para o café!

Parte 2 - Juntando tudo ou Saindo da Zona de Conforto ou Hora da Verdade ou O quanto de feedback você é capaz de suportar?

"Somos um corpo que narra". Ao narrar, é preciso ver o filme da história em sua tela mental e corporificar o que for preciso. "Quando movimentar-se conectar-se com seu centro." Alguns exercícios, novamente a Polêmica do Ser Ou Não Ser o  Personagem. E foi nessa hora que senti certo clima de animosidade entre alguns colegas de turma e professora. Leila tem suas convicções a as apresenta com energia, o vigor de seu corpalavra incomoda alguns. 

Durante um exercício, Leila age como diretora mandaando voltar, corrige, aponta, não é fácil, sei bem. Alguns colegas, sem terem tido essa experiência sentem-se desconfortáveis, o consciente barra, a situação piora um pouco mais. Argumentos daqui e dali, não cabe aqui juízo de valor de minha parte, entendo a dificuldade dos colegas, embora certa abertura para ouvir ou como diria Tica "Abre um HD novo aí dentro para a informação que está chegando..." podem ajudar muito. Leila também não é um doce, tem a rigidez das bailarinas, mas "disciplina é liberdade.". Alguns colegas se incomodam e já motivados pela pressa do horário estourado deixam a sala. A conversa continua, exercício também. E se antes fora parado no meio para correção, segue até seu fim. Considerações sobre a coerência da narrativa e a diluição do corpo no ato de narrar continuam colocando o dedo na ferida. Mas só crescemos quando somos colocados diante de conflitos e adversidades, zona de conforto é uma merda. Só eu sei o quanto sofri com alguns professores e hoje lhes sou extremamente grato, por tudo até pelos  seus desacertos. 

Até que ponto, nós enquanto contadores estamos com a escuta apurada, para ouvir o outro, o professor, o colega a agir e experienciar os ensinamentos que nos forem passados olhando para dentro e não fazendo piada dos outros e esquecendo de si próprios? E é completamente compreensível que se tenha dificuldades, que se sofra com as correções, precisamos ser apontados e dói, sei. Mas podemos fazer coisas incríveis se estivermos seguros nas mãos de alguém e sabemos que podemos apagar e corrigir o que fizermos. E que venham outros apontadores. De minha parte, estou pronto! Que saiamos deste aquário individual e enxergamos o mundo lá de fora. Mesmo que o nos corrijam com rigidez e vigor. 


E infelizmente precisei sair antes do fim, uma noite mal dormida, a fome, um trabalho que faria no sábado à noite motivaram minha saída. No almoço, sushi e sashimi regados a uma conversa maravilhosa com meu parceiro de grupo: o grande e genial Adilson França. 

[... e assim foi.]

Segue um vídeo sobre pedagogia Waldorf, que andei pesquisando. Estou cada vez mais interessado por isso.



2 comentários:

Antonio Rosa disse...

Caríssimo Varlei Xavier e Famila estimo que estejam bem.,Pode ser que estamos atrasados em relação a este método de estudo,mas creio que chegaremos perto,existem pessoas maravilhosas em nosso País que fazem diferença no tratamento de nossas crianças,você por exemplo...
Agradeço poder conhecer o Sr.Varlei Xavier um Amigo sem igual... Graças...
Antonio Rosa...

Varlei Xavier disse...

Querido Antônio,

obrigado pelo comentário carinhoso. Parabéns pela pureza de seu coração e espírito. O mundo precisa um pouco mais dessa delicadeza. Conte comigo e um forte abraço!