quarta-feira, 1 de maio de 2013

Carne de Língua (Diário de Bordo do Curso de Formação de Contadores da Histórias) Aula 6

Havia chegado a hora."O jogo simbólico da criança". Desde a 3ª aula estou esperando o retorno da Maga e minha sede de saber seria saciada. Saí de casa com minha noiva e entupi o carro com minhas expectativas (novamente elas). O caminho pareceu mais curto, nem me lembro da canção que tocava no rádio. Enfim, adentrava o auditório da Hans cheio de brilho nos olhos. Comentei com ela sobre minha ansiedade e ela respondeu dizendo que faria uma experiência. Uauu! Adoro aulas em que o experimentalismo do professor se apresenta. "Eu também sou tão experimental...", pensei. Seria ótimo. 

Para mim era um espetáculo. Pareceu-me ouvir até o terceiro sinal. Falou-se algo sobre Edgard Morin, mas não lembro o que foi. Sei que já ouvi falar muito bem dele, que ele vem sempre ao Brasil, dá palestras no SESC e que é um homem bastante simples. "Da próxima vez tenho de anotar direito", penso agora. 

Começamos com um assunto que já conhecia. Os três níveis, ou três cérebros. Assunto recorrente em meus estudos de PNL e Mecânica Quântica. O assunto não apresentava novidade, embora as informações fossem bastante ricas. Depois, os hemisférios cerebrais, outro assunto que já conhecia e foi bom rever. E, vez por outra, a Maga lançava uma das suas frases mágicas. "O Contador de histórias é o corpo caloso do cérebro". Corpo caloso: parte do cérebro que une o hemisfério direito ao esquerdo. Não vou discorrer aqui sobre a função de cada um. Este registro serve como material de fixação dos conteúdos aprendidos e sobre este já conheço. Talvez precise aprofundar-me um pouco mais, mas hoje, perdoem-me os colegas, optei por fazer uma viagem um tanto diferente em direção ao passado. Até o estilo me foi. E adianto que serei um pouco mais pungente. 


Em dado momento, talvez antes de se falar sobre o cérebro propriamente dito, Eli nos contou que há neurônios também em nosso intestino. "Acho que finalmente entendi por que penso tanta merda.". Disse que seria mais cáustico, não disse?

Mais uma vez fui traído por minhas anotações inespecíficas. Meu caderno diz "História Sujinha da Eli". Lembro que houve uma história, mas não consigo recordar-me dela. Outra vez percebo que os recados da Senhorita Escuta para a Dona Memória devem ser mais específicos.

Um pouco de sono... 

Disse ela: "Estamos criando uma geração de sociopatinhas". Concordo plenamente. Nossas crianças cada vez mais têm dificuldade de viver em comunidade. Filhos únicos, príncipes e princesas mandões, com dragões interiores, impetuosos e ferozes. Que o contador de história possa trazer a coruja adormecida dentro de cada um...

Sono...  

Outras frases importantes ou o que consegui captar delas: 

"Mito e realidade são valores dinâmicos". "O triste é que as religiões tentam a todo o custo transformar o mito em realidade histórica.". E o quão duro é conversar sobre isso com pessoas cujo credo (seja ele qual for) as impeça de discutir o assunto sem gerar conflito ou ruptura. Cada vez mais, assunto complicado. Sei bem... 

Muito sono. Devia ter dormido mais cedo

"Quem fica sem narrativa, cai pelas beiradas da existência humana". Nada mais verdadeiro e poético. "É preciso honrar a criança e o adulto que há em nós." I couldn´t agree more. "Atenção para a radicalização do herói." Vivemos uma sociedade em que o herói e super valorizado, isso talvez também potencialize a hiperatividade da criança. Nunca havia pensado nisso, mas faz sentido. E quem sabe eu ande contribuindo para tal. É algo a se pensar.

Intervalo, comidinha e conversa com os amigos. "Nossa, que salada de frutas bonita." Parei para conversar com alguém e quando voltei "A salada de fruta devia estar boa. Logo acabou..." 

Pós intervalo: Fases do Desenvolvimento da Consciência Individual e Coletiva. Rocambole de Jung, Neuman e Whitmond preparado por Eliana. 

Fase Matriarcal ou Fase Mágica: Até os 4 anos aproximadamente. Tudo gira em torno do mundo da mãe. Relação com os Mitos de Criação. 

Transição ou Fase Mitológica: 4 anos até puberdade. Relação de desejo entre mãe e filho consorte (Sófocles já sabia) e transição para o Politeísmo Patriarcal (Até chegar a um pai celeste e Abstrato)

Patriarcal ou Mental: A partir da Puberdade. Fase Egóica e Mental, onde a mente é o árbitro supremo. Grande repressão de desejos e radicalização do herói.

E já era hora de dar tchau. Um tiquinho de decepção me tomou. Mas e o Jogo Simbólico? E a Psicanálise dos Contos de Fadas? E aquela ideia interessante de que o contador de história precisa conhecer o simbólico da de cada público para escolher melhor a história? Ok, eu entendi as três fases. Mas não há algo mais? Certamente há, mas ficou por nossa conta... 

Lógico. Expectativas foram quebradas. Particularmente, eu teria passado mais superficialmente pelos hemisférios cerebrais a fim de ter um pouco mais de tempo para discutir o jogo simbólico. Vim querendo muito mais, assumo, saio com mais sede. Mas o processo de ensino e aprendizagem tem dessas. Na primeira não esperava muito e foi ótimo, nesta esperava muito mais, porém não foi. A vida é assim. E este registro é apenas uma reflexão pessoal. Não tenho o intuito de julgar a professora. Mas lógico, fui transbordando de ansiedade, e ficou aquele gostinho de "queria mais..." Alguns coleguinhas também.

Depois, antes de irmos ao SESC, uma conversinha com meus parceiros de grupo, gente agradável e paciente, que me ouviu contando a história do "Mendigo Sonhador". A mesma reação de sempre. Fomos então ao SESC, onde comemos uma comidinha deliciosa e depois nos deliciamos com a Contação de nossa Grande professora Simone. E não é que havia uma história parecida com a minha no repertório do dia?

Se ela pode, porque eu não posso, Angélica, Raquel e Adilson? 
huahauhauahuahuahauahuahuahauahuahuahau

E assim foi...

Hoje vou de Rolando Boldrin, com um causo delicioso. Canalha como fui hoje.

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