Como o terceiro entrevistado desta série, trago a vocês com muito prazer o poeta e dramaturgo Paulo Scaldassy. Paulo é morador da Santos, é poeta, escritor, roteirista e dramaturgo além de ser colunista dos sites Talento Brasil e Oficina de Teatro. Na entrevista, o escritor falou sobre a vida de dramaturgo, de como é seu processo de criação, sobre a dificuldades da carreira e sobre o sistema de direitos autorais. Vale a pena conferir.
Varlei Xavier diz: Como começou sua história como dramaturgo?
Paulo diz:
Então, foi meio sem querer. Quando tinha uns 18 anos, entrei em um grupo de teatro amador aqui na minha cidade. Nunca tinha feito teatro, (mas já fazia poesias e letras de músicas com um parceiro meu) De cara fui mordido pelo bichindo do teatro, só o que me encantou mesmo, foi poder criar as histórias. E como o diretor do grupo também escrevia, ele acabou me dando a maior força. Então comecei a escrever, escrever, sem parar. Mas, durante muito tempo só o meu velho amigo diretor, minha esposa e minhas gavetas, conheciam o meu texto. Até que em 2002 resolvi virar o jogo. Descobri o concurso de dramaturgia da Funarte e a partir de então, resolvi que iria me dedicar à carreira de escritor, pois lá no fundo, esse sempre foi meu grande sonho. E estou correndo atrás do tempo perdido
Paulo diz:
Bem, foi mais ou menos assim...
Paulo diz:
Acho que me alonguei demais
Varlei Xavier diz: Não se preocupe. Escreva o quanto quiser.
Varlei Xavier diz: E vc tem conseguido se manter com o trabalho de escritor ou precisa realizar outras atividades para se manter financeiramente?
Paulo diz:
Que nada, Varlei! Pra te falar a verdade, ainda não ganho nenhum tostão com escritor/dramaturgo/roteirista. Pode acreditar. Ainda divido meu tempo entre as letras e os números (sou contador) Trabalho com contabilidade o mesmo tempo que escrevo, mas infelizmente não consigo viver apenas das letras. Brinco que os números me sustentam e as letras me alimentam... Ainda estou trilhando o caminho em busca do reconhecimento. É um trabalho duro, mas que faço com muito prazer.
Varlei Xavier diz: Então vc pretende largar a carreira de contador e se dedicar apenas ao trabalho de escritor um dia, caso isto seja possível?
Paulo diz:
É um objetivo a ser alcançado. Sempre sonhei em terminar meus dias escrevendo, e cá entre nós, já estou trabalhando com contabilidade a quase 20 anos, não sei se aguento mais 20 (rsrsrs) É claro que sei que é até possível conciliar as duas coisas, mas contabilidade é muito desgastante e penso firmemente em poder abdicar da profissão de Contador.
Varlei Xavier diz: Torço para que consiga. E desde que você começou a escrever e ver seus textos montados, qual delas mais te agradou, e qual menos te agradou. Por quê?
Paulo diz:
Bom, não tive a oportunidade de ver muitos dos meus textos que foram montados, pois a maioria deles foram e estão sendo montados em outras cidades e estados longe de onde eu moro e não dispõe nem de recursos e tempo para poder assistí-lo. Mas, fiquei muito feliz com a montagem de um texto meu "Galo, Galinho, Galão. Agora já tenho esporão!"Um texto Infantil que foi montado pela Cia.Teatro dos Quatro na cidade de São Paulo e ficou em cartaz cerca de quatro meses no Teatro Crowne Plaza. Uma produção muito bem cuidade, que infelizmente teve que sair de cartaz, pois a atriz ficou grávida. Outros textos meus tem me dado grande satisfação. Muitos deles tem participado de festivais e sido premiados. Graças a Deus as coisas vem se encaminhado e os meus textos tem sido cada vez mais montados, o que me dá a certeza que estou no caminho certo. Não gosto de falar que alguma montagem não me agradou. Todas vão me agradar, pois sei a dificuldade de se montar um texto. Uns tem mais recursos e podem fazer um trabalho melhor, outros tem muita vontade que acaba compensado qualquer deficiência. Memso porque, ter um texto montado, sem fazer parte de nenhum grupo de teatro é muito privilégio. Tenho que ficar feliz sempre.
Varlei Xavier diz: O que você espera de um diretor que montará um texto seu?
Paulo diz:
SInceramente, espero que consiga captar o que quis passar com aquele texto. Mas, não dou palpite e nem interfiro de nenhuma maneira na montagem. Muitos querem conversar comigo sobre o que eu acho disso, que eu acho daquilo. Aprendi com um professor e amigo (Nelson Albissu) que o texto depois do ponto final, não pertence mais ao autor, ele é do ator, do diretor. Cada um vai ter uma concepção de montagem, que espero sempre que bata com a minha. Felizmente não tive maiores problemas quanto a isso. Em linhas gerais, os diretores tem se mostrado bem de acordo com o que quis passar no texto. Desde que não modifique aquilo que eu escrevi, ou deturpe o sentido do texto, o diretor é livre e espero e torço para que cada um faça o seu melhor, pois assim meu texto também será melhor apreciado.
Varlei Xavier diz: Você falou sobre "aquilo que você quer passar". Fale um pouco sobre isso. Quais são as mensagens presentes na sua dramaturgia? Que mensagem, quais assuntos vc costuma abordar?
Paulo diz:
O que gosto de esvrever, de verdade, é texto infantil e procuro através deles passar coisas boas, como a amizade, a importância do meio ambiente, mas tb falo sobre trabalho infantil, sobre o medo. Mas, procuro fazer isso sem dar lição de moral, procuro fazer com que a criança mergulhe dentro da história, se envolvendo e a partir desse envolvimento, ela absorverá o que o texto quis passar. Já falando em texto adulto, gosto muito de escrever comédias e procuro colocar de forma bem humorada as críticas que faço sobre o comportamento, sobre a política, mas é claro que também falo dos dramas da vida, muito embora não tenha muito saco para ficar escrevendo sobre auto destruição e coisas do gênero, mas se o dinheiro compensar, a gente faz... rsrsrs. Mas, eu gosto mesmo é de escrever texto infantil. Mal começou o ano e já escrevi um texto infantil de curta duração, 08 pag, mais ou menos 20 min. Geralmente quando tenho uma idéia, primeiro vejo se posso contá-la através de um texto infantil, se puder, não tenho dúvido, escrevo um texto infantil.
Varlei Xavier diz: Certo. E vc é membro de alguma entidade protetora de direitos (Sbat ou similar)? E como você acha que está a questão do direito autoral no Brasil?
Paulo diz:
Olha só, até me associei a SBAT, só que fiquei muito desiludido. Fiquei sabendo que um texto meu foi montado no Japão, entrei em contato com eles, e estou até agora esperando, esperando sentado, pois os "caras" simplesmente não me deram audiência. Quanto a questão dos direitos autorais, sou totalmente a favor do pagamento dos direitos autorais aos autores. Tenho até um slogan: "DIREITO AUTORAL. TODO AUTOR TEM DIREITO" Só que infelizmente somos desprotegidos. O ano passado, andei trocando idéias com outros dramaturgos, sugeri até que fosse criada uma associação, ou algo do tipo, mas não vingou. Nenhum teatro, nenhuma prefeitura, ninguém cuida do direito do autor. O teatro devia exigir uma declaração do autor liberando o texto para aí então, deixar que a apresentação aconteça, mas ninguém quer saber. Mas, já não arranco mais meus cabelos por conta disso. Sei que dificilmente vou enriquecer com o teatro, então, faço dele minha porta para o reconhecimento, e estudo caso a caso a questão dos meus direitos, mas geralmente os libero para grupos amadores e estudantis, não tem sentido querer cobrar direitos autorais nesse caso. Um dia ainda espero que o direito autoral seja respeitado. Quem sabe, depois que eu morrer, os meus netos não recebam sobre eles?
Varlei Xavier diz: Esta história de um texto seu ter sido montado no japão e Sbat "nem aí" é uma piada. Eu, pelo menos, fico revoltado com isso. E o pior é que há autores que violam direitos de colegas autores. Vai entender, não é?
Paulo diz:
É verdade. Na questão no Japão, eles até chegaram a me enviar um e-mail de resposta dizendo que estavam tomando providencia, mas já se passou um ano e nada.
Varlei Xavier diz: Absurdo. Você é de Santos, minha família é daí. Como anda a cena cultural aí no litoral? Há apoio do poder público? Os grupos têm espaço para se apresentar? Quais são as dificuldades?
Paulo diz:
Aqui a cena cultural sempre foi forte. O governo até que dá bastante apoio nesse sentido. Mas, não sou muito chegado aos grupos daqui, tenho alguns amigos aqui e ali, mas não me envolvo. Participo de alguns eventos quanto sou convidado, cansei de ver a roda rodar sempre no mesmo lugar.
Varlei Xavier diz: O que vc acha do "Acordo ortográfico" que entrou em vigor no primeiro dia do ano? Como este acordo afetará sua produção?
Paulo diz:
Olha, para te falar a verdade, não tive tempo de estudar o novo acordo. Não via uma necessidade para que fosse implantado o tal mudança, mas já que ele está aí, temos que nos adequar. Acho que do começo, vou encontrar dificuldades, mas com o decorrer do tempo, as coisas devem se encaixar. Mesmo pq, segundo os acadêmicos, a mudança não afetará mais do que 5%, então...
Varlei Xavier diz: Certo. Uma última pergunta:
Paulo diz:
Vamos lá
Varlei Xavier diz: Qual é seu maior sonho/objetivo como autor? O que vc mais espera ou pretende alcançar, conquistar ou atingir com este ofício?
Paulo diz:
Olha, o meu objetivo e o que tenho corrido atrás e que espero poder alcançar esse ano, é poder levar o meu trabalho a um número maior de pessoas. E como fazer isso? Entrando para televisão. Escrever seriados infantis, minisseries, novelas. Llevar a minha dramaturgia para a televisão. É o meu objetivo nesse ano.Também pretendo produzir um curta metragem e montar dois espetáculos teatrais. E espero conquistar o reconhecimento e por fim ser remunerado por ele.
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