quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Cenas antigas do curso de Dramaturgia (Parte 2)

CENA: PAIXÃO DE AUTOR

PERSONAGENS: LUIZ E NETO


DE COMO UM JOVEM AUTOR DESTRÓI SUA OBRA POR CIÚMES DE SUA PERSONAGEM.
Sala bem decorada. Tapetes, pufes e um sofá aconchegante. Luiz, sentado no sofá, folheia uma pasta cheia de folhas com muito carinho. Sorriso no rosto; profundo prazer. Toca a campainha. Coloca o livro carinhosamente no sofá. Vai atender. Abre a porta.
LUIZ:
Olha ele aí!
NETO:
Antes tarde do que nunca...
Abraçam-se.
LUIZ:
Tem chá...
Vão sentando.
NETO:
Pra depois do papo... Quero saber se leu, o que achou... Só depois mandarei à editora.
Luiz olha o livro. Pega-o em cima do sofá.
LUIZ:
Li sim. Bom demais. História boa...
NETO:
Eu gosto é das tuas.
LUIZ:
Meus olhos grudaram no livro. Ponto pro autor. Comi e dormi pouco. Só li. As palavras, os sons e as imagens alimentavam minh´alma. Enquanto não terminasse, não descansava. E agora, ao fim, tenho saudade.
NETO:
É como conhecer alguém profundamente e ter que se despedir. Sei bem. Seus livros me provocam assim. Quais são as críticas?
LUIZ:
Nada que valha a pena. A obra é profunda, doce e consistente. Personagens parecem existir. Saltar da folha. Stella é assim. . 
Pega a pasta e folheia com profundo prazer.
Mulher inteira. Chego a sentir seu perfume, seu calor. Um foundie de chocolate quente com morango. Cheguei a vê-la em minha frente. Quanta magia. Pele negra, calor de escaldar. Corpo que pede a cama. Lábios que pedem beijos e lambidas e mordidas....
Retira o livro de sua mão.
NETO:
Não é pra tanto.
LUIZ:
É muito mais. É de aguçar os instintos masculinos.
NETO:
Não brinque assim.
LUIZ:
É muito sério. Stella Saltou do livro e veio a mim em imagem clara. Vi-a em minha frente. Quis tê-la pra mim. Tocou-me em cada célula.
NETO:
Pois se assim te toca, não me agrada. Stella é criação minha. Do meu querer. Mulher que criei com o mais fundo do meu desejo. Criei pra mim. Não foi pra outro gostar. É do meu gosto. Mas desgosto de te ver em deleite por coisa minha.
LUIZ:
É obra tua, como disse.
NETO:
E é mulher minha também. Criada por fantasia. Não foi pra isso. Errei na mão.
LUIZ:
Não entendo. Devia estar feliz.
NETO:
Podia gostar de qualquer coisa. Qualquer uma. Quantas mulheres não havia? E quantas não descrevi com mais volúpia? Tinha que ser de Stella? Não aceito. É ciúme? Talvez... Mas ciúme é do que é meu. É do que é mais meu. Mulher no mundo eu não tenho nem sei se um dia vou ter. Stella é a que criei por falta das outras. Mas agora quero ela e mais ninguém.
LUIZ:
Não enlouqueça por pouco.
NETO:
Stella é muito. Disse você mesmo. Seu corpo é real no devaneio que propus. Seu cheiro você mesmo sentiu. Seu gosto de chocolate ao leite você quer sorver como também quero. Nunca quis assim personagem sua. E por que querer a minha? Mulher não te falta. Em cada esquina há uma caída a teus pés. E eu que só tenho a que criei? É justo perder também esta? Justo a que brotei desde dentro até gravar na página a imagem com a palavra mais bem pensada?
LUIZ:
O fato, amigo, é que trabalho bem feito tem dessas. E a mulher ideal é muito melhor do que a real. Stella é bela e perfeita porque é feita de palavra e imagem. E é de todos aqueles que as lê. Queira ou não, é o que fez com seu escrito. Ditou ao mundo mulher pra se querer com tanto desejo que é tua e de todos. Leia quem ler, seja mulher ou homem, novo ou velho.
NETO:
Se assim é, não chegará a ninguém.
LUIZ:
Mas está pronto! E é primoroso.
NETO:
Eu sei!
LUIZ:
Levo à minha editora.
NETO:
Esqueça. Se o que diz é verdade, não posso deixar que Stella chegue à mente de outros homens. Já não suporto saber que você a deseja. Mesmo você, tão querido, meu mestre. Enquanto é tempo, devo reparar meu erro. Ainda posso. Vou-me embora antes da hora do rush. Uma gaveta aguarda Stella. Somente assim será minha.
Neto pega a pasta e a segura com força.
LUIZ:
É ainda jovem. Mudará de idéia com o tempo
Vai saindo e volta.
NETO:
Talvez. Para não correr riscos, queimarei as cópias que tenho. Aprisionarei Stella em minha mente.
Sai. Deixa ainda a porta aberta. Luiz permanece olhando perplexo. Cai a luz.










Cenas antigas do curso de Dramaturgia (Parte 1)

Há algum tempo, escrevi algumas cenas no curso de dramaturgia e esqueci de colocá-las aqui. Aí vai a primeira!


CENA: VINGANÇA E ESPERA
PERSONAGENS: VINGADO E VITMA
DE COMO O VINGADO É PERSEGUIDO POR SUA VÍTIMA.
Luz baixa. Sons de brotar água. Um homem sentado olha o cadáver ainda quente. Limpa a faca na roupa.
Vingado:
Quero um pouco do teu sangue. Não lavarei a roupa, meu troféu. Que o resto escorra, que a água venha e leve tudo. Maldito.
(Levanta. Passa a faca no ar como se cortasse novamente o pescoço dele)
Alguns diriam que um só corte é pouco. É o que basta. Não precipito a te furar mil vezes. Sou mais forte que meu desejo. Ajo por bem maior que ego. Salvo o mundo de um monstro.
(Crava a faca no chão, do lado da cabeça da vítima)
Ainda sorri, infeliz? A dor da corte, a morte a caminho de buscá-lo e ainda sorri? Olhos abertos a me olhar de fixo. Encara e não me deixa. Toda maldade não sei esvai com a dor, Bicho cruel?
(Espera um pouco. Olha fixamente para o fundo da gruta, caminha um pouco em direção à profundeza. Observa como se esperasse alguém. Volta.)
Satan não vem. Matei-te aqui, próximo à sua morada. Ato baldio. Fecha a porta o inferno. Não se recebe ser tão mal. Até demônios têm limites e agem por seus códigos e regras infernais. Não é bem visto perante os seus no inferno.
(Olha fixamente o cadáver. Muda a feição. Respiração se acelera)
Fique onde está! Como ousa levantar? Não me rodeie! Aparte-se de mim, de minha mente. Largue meu corpo, meu pensamento! Não basta o que já foi? É pouco o que fez no mundo?
(Passa a mão no corpo como se tentasse se limpar)
Não some. Não sai. Este tormento tomará de assalto o corpo e a mente do homem bom, do justo que fez no mundo o que a lei não fez? Grande injustiça!
A morte há de resolver. E lutaremos pra sempre no invisível. Luta sem vencedor e sem vencido. Prisão mais certa a ti. Eu pago o preço de não te ver matar crianças como minha filha. Da crueldade te afasto se a ti me uno? Meu sofrimento livrará outros, o preço é justo. Já não há como reaver o que perdi. O sofrimento é grande. E sua perseguição será inferno na terra. E aqui nada posso contra ti.
(Aumenta o desespero. Pega a faca que estava cravada ao lado do corpo, aponta ao peito)
Abandono o corpo como há pouco te vi fazer. Vou preparado à eterna guerra. Que seja, se nada posso.
(Prepara o furo. Desiste na última hora)
Falta coragem. Temo mais a dor do corte que a batalha que virá. Lá fora amanhece. Filhos acordam com seus pais ao pé da cama... Não tenho mais esta alegria. Também não há mais o teu prazer em matá-las. Longe da matéria, teu sofrimento é grande por não poder corresponder aos ímpetos de tua funesta natureza? Também não pode estar distante de mim que te fiz morto? Perseguirá meu corpo eternamente? Siga comigo, pois, olhando o mundo sem poder tocá-lo. Olhando filhos sem poder matá-los. Sofrendo só do lado escuro do outro mundo. Sofrendo a vida que não tem eternamente. E mesmo que eu sofra com a perseguição, o prazer de sentir sua dor compensa a pena a que me impus. Vamos embora que logo o odor de podre tomará a gruta. Quero antes o orvalho da manhã e o cheiro das flores do campo. Quem sabe não há uma criança lá fora? Estou curioso. Me acompanhe, por favor! Uma legião de dragões há de nos acompanhar. Vejam, estão chegando. Trazem consigo flores. São para mim. Pagam-me a beleza de meu ato. Matar é ruim? Quando se livra do mundo ser tão mal, tão terrível, é um bem que se faz ao mundo. O mundo me agradece. Um banquete me aguarda lá fora. E o sofrimento de um mundo que não pode pode tocar se aproxima. Acompanhe-me, por favor!
(Sai o Vingado. O corpo permanece)


domingo, 10 de outubro de 2010

Máscaras, Monstros interiores e Mazelas

E de repente as coisas mudam. Monstros interiores eclodem, máscaras caem. Mas e tudo aquilo que já foi? Mentira? Mudança? Quem sabe...

Dorme dentro de cada um a sombra de si mesmo. Inimiga de si próprio, há de se ter o desejo de reprimí-la, de segurá-la com unhas, dentes e correntes fortes. Acompanhada da arrogância e da intolerância, rompe as grades do bom senso e sobe os muros da razão. O monstro interno surge rompendo o espaço e como que num furacão. No fim, o que resta é devastação e ruína. Natural, indesejável, mas possível.

Não há problema em se deixar eclodir o monstro. Tristeza há quando não existe sequer boa vontade de ajudar a reparar os estragos por ele causados. Aí já não se sabe quem é quem; mascara, monstro...

É só mazela...

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Mais imagens quentes

Mais quatro imagens quentes que encontrei no curso de dramaturgia: 

COMENTEM!


A noite chuvosa revela em suas luzes turvas um rapaz que corre desesperadamente pelo centro da avenida. Os carros desviam dele e longas buzinadas soam alto junto com os barulhos dos pneus no chão molhado. A correria desenfreada tem a retidão de quem tem um objetivo claro. Traz um copo consigo e parece querer enchê-lo com as gotas de chuva que caem. O jeans molhado pesa sobre seu corpo, mas mesmo estafado seu objetivo não cessa. Os carros desviam, a corrida é objetiva, o copo recebe os pingos d´água e lentamente se preenche.

Pequenas e sedosas mãos de menina apanham a boneca de pano. Assenta na janela como se fosse gente. Os dedos calmos tocam o pescoço e a leveza passa a pesar sobre a boneca. O toque passa a ser pressão, que e se torna esganadura. A pressão dos dedos faz tremer o corpo da boneca, que parece sofrer. Satisfeita do esforço, solta sem remorso a boneca, que esmorece e cai, dobrando seu corpo pela janela e tombando para fora do quarto da menina rumo ao chão.


Sentado no chão da sala cheia de sofás e almofadas um homem chora. Com as costas na parece, vez por outra eleva a cabeça ao céu. Tem em seu colo um monitor velho de computador, que parece deitado sobre ele. O homem chora e acaricia o monitor que, se fosse gente, estaria deitado em seu colo. A relação entre os dois é quase sublime. Não se sabe quem consola, tampouco o consolado. Os fios do monitor repousam sobre o chão e levam até o teclado, posto ao contrário, com as teclas no viradas para baixo. Ligado na tomada, a CPU, indiferente e fria, trabalha como se não houvesse nada a seu redor.

           
Feliz está com os pés num mausoléu antigo, uma moça de vestido florido. A dois metros de altura do chão, mas olhando o céu a mulher jovem sorri despreocupada. O vento do outono arrasta folhas secas e ondeia ainda mais as curvas do seu cabelo. O vestido sobe devagar, revelando belas pernas. O riso aumenta, chega à risada, que desemboca na gargalhada gostosa. O vento bate mais forte, revela um pouco mais de seu corpo. Pouco se importa. Coloca-se apenas como a cruz atrás de si, de braços abertos, sem sofrimento, sem dor nem angústia. Ri feliz e satisfeita. Leve como se a qualquer hora pudesse sobrenadar na ventania.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Imagens quentes

PARTE 1


Aridez sertaneja. Corpo de mulher arqueado no chão. Único sinal de vida em quilômetros. Vestido claro de um florido desbotado. Cabelos castanhos maltratados pela poeira.  Mãos na terra-lama-seca quente do sol esbraseado. Cava com o vigor de quem procura. Dedos longos, palmas calejadas, terra em montes ao lado. O corpo assimila os golpes do calor. Afunda-se aos poucos em seu próprio cavoucar. Não levanta os olhos um momento sequer, nem mesmo quando a pele das mãos e dedos já desgastada principia a sangrar. Arfa e geme enquanto acelera o ritmo da ação. Cava fundo e rápido. O som das mãos na terra ecoa pela planície infecunda. Olhos só olham a terra, ignorante do seu esforço.

PARTE 2

Divindades do candomblé assistem ansiosos à figura da mulher entrar cansada como quem correu quilômetros com um pedaço de osso em suas mãos. Passos dados com fé até o altar onde aguardam santos e oferendas. Curvada coluna, joelhos dobrados, osso toca o chão. Entra o babalorixá que trás consigo uma bacia de metal cheia d´água cujo agradável perfume aos poucos toma o ambiente. Mal pousada no chão a bacia a moça mergulha o osso na água de cheiro. Limpa o osso do barro nele impregnado e de seu próprio sangue que o tingia. Oferece o osso ao céu. Ventania invade o local.


NOVA IMAGEM

Edifício inacabado. Cimento, concreto e metal visíveis. Um homem humilde, macacão sujo, mãos calejadas, respiração ruidosa. Pega alguns blocos e se aproxima do fosso do elevador e os atira calmamente buraco abaixo. Observa com cuidado o cair de cada um. Busca algumas ferramentas e repete a ação entregando-as ao buraco. Olhar firme para baixo. Um a um, todos os objetos vão sendo atirados buraco adentro. Por fim, solta-se a carriola. O ruído do metal nas paredes ecoa por todo edifício enquanto a respiração silencia.




Conto (Curso de Dramaturgia)

Depois de Quinze
            Nem o vento ousa soprar perto da casa onde o aroma de café movimenta a atmosfera. Amigos e parentes aguardam na sala. Poucos rezam e ninguém ousa falar. Rosa ameaça pôr a mão na porta, recua. Respira fundo, abre a porta com cuidado e prostra-se do outro lado. Nena, sobre a cama, olhos colados na sobrinha, respira fundo e exala com gemido. Manda-a entrar e fechar a porta. Uma retórica pergunta sobre o estado da tia inicia a conversa. Nena estava visivelmente mal. Rosa timidamente senta sem saber o que dizer. O corpo parece não aceitar bem a cadeira ou vice-versa. Inquietude silenciada de duas próximas bem distantes. Um abismo de anos.
            Se Rosa viria, Nena tardava a acreditar. Mas lá estava ela, quinze anos depois, no quarto da tia, igualmente decorado e limpo. E foi a tia quem de início tocou no assunto. E embora rosa não quisesse, acabou se envolvendo. Havia gente lá fora. Família e amigos aguardavam seu último momento com Nena, que só queria Rosa antes de ir. Rosa não queria ouvir. Mas dessa vez, a moça surpreendeu-se ao ver que a tia, mais do que falar queria ouvi-la, fato incomum para áspero assunto.
            Se era inevitável falar, que se falasse. Que Tia Nena sempre fora muito mais que mãe, que irmã, que a amava mais que a qualquer outro; que tudo foi acabando por saber por outros que não era assim para a tia. voz que vinha da cama buscava interromper, dar sua versão, mas o vigor da voz da sobrinha era maior, visivelmente mais vivo que o dela. Depois de quinze anos não havia mais que se esconder. Que lamentar. E não havia remorso que a fizesse mudar. 
Mas Nena estava em paz. Chamara Rosa para entregar a verdade como último presente à sobrinha querida.  E começou quinze para as oito. Quase a hora do baile de Rosa. Quinze anos, data esperada por Rosa e Nena. Grande dia para as duas. A última olhada no espelho mostrou Silvia, mãe de Rosa, a olhar firmemente para a irmã. E praguejou por todos os quinze anos de antes. Que Nena tinha tudo. Tinha casa, marido e amigo e ainda roubava-lhe a filha, única coisa que tinha pra si; que suportar por quinze anos era duro, e não agüentaria mais tempo; que se pudesse, mandava-a embora, mas que não ia estragar a festa. Que quem estragou foi ela mesma por, não suportar, embora tivesse tentado. Que foi definhando e não foi possível ficar muito na festa. E acabara naquela cama.
Batiam na porta, Rosa dizia. Que batessem, dizia Nena sem se importar. Aproveitando o pouco tempo que tinha, pegou com as mãos quase já frias nas suadas mãos da sobrinha-filha mais querida. Pediu que não brigasse com a mãe. Agora, uma só tinha a outra. Batiam na porta. Rosa perguntava o porquê do silêncio de quinze anos. Não entendia. Repetia a pergunta. A última inspiração da tia exalou a resposta. Porque nunca roubara ninguém. Não admitia tal injúria.
Batiam na porta mais e mais. Sem a resposta, abriram. Era Ida, prima distante de Rosa. Entrou para avisar que a mãe de Rosa chegara...

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

sábado, 28 de agosto de 2010

Brilho nos olhos





Um dia, tudo começou com as crianças. Eu, recém adulto, tive contato com este universo maravilhoso. Tudo ganhou cor, brilho, aroma, textura e sons diferentes. Aos poucos fui virando quem hoje sou. Voei alto, fui longe, aos poucos meus sentidos se apagaram. Como que por destino, tropecei e caí no exato lugar de onde saí. A mesma vida que me levou para longe dos pequenos, trouxe-me a eles novamente. E tudo voltou a ser bonito, mais colorido, mais cheiroso, mais gostoso de saborear, de ouvir e de sentir. É o brilho nos olhos de volta. É a magia contida num abraço sincero, num "eu te amo", num chamar de "tio" com todo carinho que há no mundo, com perdão pedido aos pedagogos. Um bilhete escrito com uma letra insegura e uma ortografia ainda imperfeita que encerra a perfeição do mais profundo amor. 
É bom ter tudo isso de volta. É bom ter que brigar, chamar atenção, impor limites, enxugar lágrimas, segurar as minhas, chegar cansado, sem energia, querer dormir pesado e acordar no outro dia ansiando por um abraço de braços curtos e sinceros de gente que sente sua falta e aguarda por sua chegada ansioso. Esse carinho é bom demais e duro de esquecer.

sábado, 7 de agosto de 2010

Espaço Cultural Casimiro de Abreu: Uma nova Colunista

Espaço Cultural Casimiro de Abreu: Uma nova Colunista: "A partir desta data, o Blog do Espaço Cultural Casimiro de Abreu conta com uma nova colunista. Nanda Alvarenga, jornalista e assessora de im..."

sexta-feira, 30 de julho de 2010

Arte também é trabalho (desabafo)

O Espaço Cultural Casimiro de Abreu abriu suas portas com este mote. Há algum tempo já, venho tentando lutar contra a idéia de que artista é tudo um bando de folgados, que não tem compromisso com o trabalho, que na verdade não trabalha, que chega atrasado, que não se valoriza enquanto profissional e vive trabalhando de graça para os outros a fim de "divulgar o seu trabalho". 
Grande parte das pessoas não leva o artista a sério. Grande parte disso porque normalmente quando se agrupam, artistas são pessoas alegres, se abraçam, são menos preconceituosas e mostram a verdade de seus corações, vestem roupas em que se sentem bem e revelam suas orientações sexuais sem medo. Muita gente diz que "fulano começou a fazer teatro e virou gay", na verdade, o teatro foi apenas o lugar que permitiu esta descoberta ou que aceitou sua escolha. Teatro não é coisa de viado, como dizem. É coisa de ser humano de todos os tipos, todas as etnias, todas a religiões e todas as orientações sexuais. Muita gente não entende isso. 
O artista é incompreendido? Claro que sim. Mas muitas vezes nós artistas reforçamos o preconceito, a incompreensão e os julgamentos das pessoas quanto à nossa profissão. 
Quando não respeitamos nossa profissão como deveríamos, quando não respeitamos nossos próprios horários e compromissos, reafirmamos o que as pessoas pensam. Muitos problemas nós artistas enfrentamos é fruto da postura do próprio artista. É uma pena constatar isso. E já percebi isso há algum tempo. Aqui no ABC, a questão é ainda mais complicada porque a maioria dos artistas não consegue viver apenas de arte. E isso também é um grande problema. Dobrar jornada é mais duro ainda. Mas quem escolhe isso deve cumprir com seus compromissos. Acredito que ser artista é trabalhar mais do que qualquer um, ser mais caxias, ou pelego que qualquer profissional. Deve-se pensar nisso independente da idade.É de pequenino que se torce o pepino. Quem começa cedo, deve começar certo. Afinal quem começa errado tem muito mais dificuldade de acertar depois. Não aceito a idéia de "pega leve, eles sao jovens". Não aceito.

Desculpem pelo desabafo
 

domingo, 18 de julho de 2010

Relembrando Zumbi


"Eu vivo num tempo de guerra. Eu vivo num tempo sem sol. Só quem não sabe das coisas é um homem capaz de rir. Ah, triste tempo presente, em que falar de amor e flor é esquecer que tanta gente tá sofrendo tanta dor. Todo mundo me diz que eu devo comer e beber. Mas como é que eu posso comer, como é que eu posso beber, se eu sei que eu tô tirando o que eu vou comer e beber de um irmão que tá com fome, de um irmão que tá com sede? De um irmão... Mas mesmo assim eu como e bebo. Mas mesmo assim, essa é a verdade. 
Dizem crenças antigas, que viver não é lutar. Que sábio é o que consegue ao mal com o bem pagar. Quem esquece a própria vontade. Quem aceita não ter seu desejo é tido por todos um sábio. É isso que eu sempre vejo. É a isso que eu digo NÃO!" 

Dizia este texto no Espetáculo Arena Conta Zumbi. Ideologicamente, é o espetáculo que mais mexeu comigo. Aquele que mais disse coisas significativas. Muito do que aprendi com esta montagem, tento trazer para o meu dia-dia. Esta minha mania dizer o que penso (com jeito, mas dizer) vem daquilo que aprendi com um professor que tive, que foi também o diretor desta peça. Ele dizia: "O ator é um formador de opinião. Suas opiniões precisam ser claras". Muita gente o criticava por muitas coisas (algumas até com razão), uma delas era que ele fazia um teatro político. Um dia ele rebateu com a seguinte pergunta: "Existe teatro que não seja político? Existe postura humana que não seja política?" 

Até então eu fazia teatro, mas não tinha qualquer ideal ao fazê-lo. Talvez até o tinha, porque meu teatro sempre esteve atrelado à educação. Mas o fato é que não sabia o motivo de eu fazer teatro. Até eu poder aprender um pouquinho mais sobre aquilo. Aprendi um pouco e hoje aquela idéia é muito forte na minha cabeça. Faço teatro para que o mundo seja um lugar melhor. Para que as pessoas sejam melhores. E levo isso muito a sério. Só eu sei. Desde que eu me formei e até antes disso, não houve um sequer espetáculo que montei que não estivesse profundamente ligado a este ideal. Quando a gente acredita de verdade numa coisa, lutamos por ela com unhas e dentes. E assim tem sido. Tenho lutado pelo teatro em que acredito. E lutado muito. E descobri que lutar pelo que se acredita não é fácil. Mais que isso, é doloroso porque para isso é preciso dizer o que pensa e, consequentemente fazer inimizades e até mesmo ganhar alguns inimigos. É duro, mas acredito. E se acredito sigo lutando, pois só assim tenho razão de ser. 

"Eu vivi na cidade do tempo da desordem. Vivi no meio da gente minha no tempo da revolta. Assim passei os tempos que me deram pra viver. Eu me levantei com a minha gente. Posso ter tido erro. Mas não foi erro ter esse desejo doído de liberdade. Eu comi a minha comida no meio da batalha, amei sem ter cuidado, olhei tudo o que via sem nem tempo de bem ver. Assim passei os tempos que me deram pra viver. A voz da minha gente se levantou e a minha voz junto com a dela. Minha voz não pode muito, mas gritar eu bem gritei. Eu tenho certeza que os dono dessas terra e cesmaria ficaria mais contente se não ouvisse a minha voz. Assim passei os tempo que me deram pra viver. Por querer Liberdade. 

TANTO CANSOU
E ENTENDEU QUE LUTAR AFINAL
É UM MODO DE SER
É UM MODO DE TER RAZÃO DE SER. 

O AÇOITE BATEU
O AÇOITE ENSINOU
BATEU TANTAS VEZES 
QUE A GENTE CANSOU..."



quarta-feira, 16 de junho de 2010

De volta

Faz muito tempo que não entro aqui. Não é falta de vontade, é falta do que dizer. Às vezes tenho a impressão de que não tenho muito a dizer. Pois sou sempre aquele que precisa dizer algo, e isso acaba me esvaziando. Tenho preferido ser mais discreto, não ser destaque, aparecer menos, ser mais um. Mas não tomo cuidado e logo já me escancaro de novo. Tenho mania de querer aparecer (sou ator, né?), mas nem sempre isso é bom. Aprendi com um mestre que é preciso aprender a dosar nossa exposição, nossa aparição pública. Acho que venho sentindo minha imagem um tanto desgastada nos últimos tempos, e é por isso que estou revendo alguns conceitos. Foi na hora certa que apareceu um novo emprego, que me ofereceu um curso de capacitação que me fez repensar minha prática, já um tanto cristalizada. Revi e encontrei muita coisa legal, como encontrei muita coisa ruim também.

Não sou mais aquele garoto que saiu da faculdade e acha que sabe tudo. Às vezes ainda tenho um pouco de dificuldade de ouvir uns e outros, mas estou bem melhor do que era. Bem pior do que eu gostaria.

Reli este poema de Victor Hugo e deixo-o aqui, aproveitando para desejar tudo isso a quem ler. Quero viver como diz este poema. Nem mais, nem menos. Isso seria maravilhoso!



Desejo primeiro que você ame,
E que amando, também seja amado.
E que se não for, seja breve em esquecer.
E que esquecendo, não guarde mágoa.
Desejo, pois, que não seja assim,
Mas se for, saiba ser sem desesperar.


Desejo também que tenha amigos,
Que mesmo maus e inconseqüentes,
Sejam corajosos e fiéis,
E que pelo menos num deles
Você possa confiar sem duvidar.
E porque a vida é assim,
Desejo ainda que você tenha inimigos.
Nem muitos, nem poucos,
Mas na medida exata para que, algumas vezes,
Você se interpele a respeito
De suas próprias certezas.
E que entre eles, haja pelo menos um que seja justo,
Para que você não se sinta demasiado seguro.


Desejo depois que você seja útil,
Mas não insubstituível.
E que nos maus momentos,
Quando não restar mais nada,
Essa utilidade seja suficiente para manter você de pé.


Desejo ainda que você seja tolerante,
Não com os que erram pouco, porque isso é fácil,
Mas com os que erram muito e irremediavelmente,
E que fazendo bom uso dessa tolerância,
Você sirva de exemplo aos outros.


Desejo que você, sendo jovem,
Não amadureça depressa demais,
E que sendo maduro, não insista em rejuvenescer
E que sendo velho, não se dedique ao desespero.
Porque cada idade tem o seu prazer e a sua dor e
É preciso deixar que eles escorram por entre nós.


Desejo por sinal que você seja triste,
Não o ano todo, mas apenas um dia.
Mas que nesse dia descubra
Que o riso diário é bom,
O riso habitual é insosso e o riso constante é insano.


Desejo que você descubra ,
Com o máximo de urgência,
Acima e a respeito de tudo, que existem oprimidos,
Injustiçados e infelizes, e que estão à sua volta.


Desejo ainda que você afague um gato,
Alimente um cuco e ouça o joão-de-barro
Erguer triunfante o seu canto matinal
Porque, assim, você se sentirá bem por nada.


Desejo também que você plante uma semente,
Por mais minúscula que seja,
E acompanhe o seu crescimento,
Para que você saiba de quantas
Muitas vidas é feita uma árvore.


Desejo, outrossim, que você tenha dinheiro,
Porque é preciso ser prático.
E que pelo menos uma vez por ano
Coloque um pouco dele
Na sua frente e diga "Isso é meu",
Só para que fique bem claro quem é o dono de quem.


Desejo também que nenhum de seus afetos morra,
Por ele e por você,
Mas que se morrer, você possa chorar
Sem se lamentar e sofrer sem se culpar.


Desejo por fim que você sendo homem,
Tenha uma boa mulher,
E que sendo mulher,
Tenha um bom homem
E que se amem hoje, amanhã e nos dias seguintes,
E quando estiverem exaustos e sorridentes,
Ainda haja amor para recomeçar.
E se tudo isso acontecer,
Não tenho mais nada a te desejar ".

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Inauguração do Espaço Cultural Casimiro de Abreu

O evento que marca a inauguração do Espaço Cultural Casimiro de Abreu acontecerá nos dias 01 e 02 de maio (sábado e domingo) das 10h às 22h (em ambas as datas). Vai reunir cerca de 20 grupos envolvendo mais de 150 artistas.

Além de se apresentarem no espaço, de forma totalmente gratuita, diversos espetáculos teatrais, de música, dança e circo, a programação também contará com exposições de artes visuais, fotografia, vídeo, e atividades na rua, nas imediações do prédio. A idéia geral é: além de trazer o público para dentro do espaço, também levar os artistas para a rua e interagir com as pessoas.

Todos os grupos convidados são compostos por artistas locais, com pesquisas extremamente bem estruturadas e com ótima qualidade artística e técnica. Confira a programação:

Sábado (01/05)

10h - Cortejo – Após uma concentração em frente ao Espaço, os artistas saem em um cortejo (caracterizados, maquiados, com instrumentos musicais) chamando atenção para o evento e convidando as pessoas para que participem. Estimamos que no mínimo 50 artistas participarão dessa ação.

13h – A máscara da liberdade - (espetáculo cênico-musical) Com a Trupe do Trapo, Grupo Cênico- Musical de inclusão social. Espetáculo com música ao vivo, ambientado no universo circense.

14h30 – Encontro Musical – (música) Trio que interpreta, com novos arranjos, os clássicos da MPB, principalmente choros, sambas e bossas.

15h – Será que foi assim? – (teatro infanto-juvenil) Com o grupo Clã de Clowns de São Caetano do Sul. O espetáculo traz ao palco a linguagem do Clown (palhaço de teatro).

16h – Contato Permanente - (dança) Com a Cia Laboratório Artístico. O espetáculo mescla dança com butoh e working in progress

18h – Clube das Solteironas - (teatro adulto - comédia). Com o elenco do TdT artes. Espetáculo montado em São Bernardo do Campo, está em cartaz a 8 anos, sucesso de público e crítica por onde passa. (Classificação 12 anos)

20h - Quinta Essentia - (música). Quarteto de Flautas Doce formado na Fundação das Artes de São Caetano do Sul. Além misturar musicas eruditas e populares, traz ao público flautas diferentes e exóticas.

21h – Banda Libie - (música). A programação do dia se encerra com um show dançante desta banda que tem em seu repertório músicas POP e da "nova MPB" e que já dividiu palco com nomes como "O Rappa", "Falamansa", "CPM 22", "Bruno e Marrone", entre outros.

Domingo (02/05) – Período da Manhã


 

10h – Projeto Intervenção Urbana – As atividades do segundo dia do evento se iniciam na rua, em frente ao Espaço Cultural Casimiro de Abreu

Este projeto vem oferecer à sociedade uma visão diferente da vida na cidade, e buscar alternativas e uma nova maneira de interagir com este meio. Apontar opções de lazer e formas de vivenciar a cidade, abrir as portas e sair de casa. Conhecer a cidade, suas ruas e avenidas, de perto, e não com o olhar passageiro da moldura do vidro do carro. Chamar a atenção das pessoas e mostrar que não somos turistas, e sim moradores e como tais, devemos nos envolver, conhecer e agir. Ao sair de casa, nos tornamos pessoas ativas. Podemos exercitar nosso físico e nossa mente, além de podermos nos relacionar com outras pessoas e conhecer coisas novas. Os objetivos principais desse evento são:

  • Levar a arte para mais perto da sociedade, e oferecer um espaço para a vivência da mesma;
  • Apresentar a população um novo olhar para a cidade onde moramos;
  • Apontar responsabilidades, e divulgar novos hábitos para podermos desfrutar nosso espaço;
  • Suscitar o debate sobre a legitimidade da arte e intervenção urbana, visto que muitos vêem essa forma de expressão como puro vandalismo;


 

Simultaneamente, em frente ao espaço cultural e aberto a quem quiser participar poderá assistir a apresentação de bandas e grupos musicais de estilos variados; Artistas de Graffite desenvolvendo painéis e realizando intervenções nos muros (autorizados por seus proprietários) e participar de uma vivencia de Parkour em parceria com a PK ABC.

Bandas e Grupos Musicais:

  • Jimi Hendrix Cover (Rock)
  • Quarteto de Trombones da FASCS (MPB)
  • Os Flamingos (MPB)
  • Música Parahytinga Brasileira (MPB)


 

Artistas de Grafite:

  • Gallo Sulreal - Nascido em São Bernardo do Campo, formado em Arquitetura e Urbanismo, desenha e pinta desde 1993. Em seu trabalho cria um universo lúdico intercalando personagens e escrita, em composições monocromáticas, criadas sem rascunhos, "just in time".

Saiba mais: www.galosurreal.com/graffiti.html

  • Rafael Fortuna Barão - Nascido no bairro de Pirituba em São Paulo, desde cedo destacou-se por seus desenhos e caligrafia impecável. Entrou para o graffite ainda na infância, atualmente mora no Rio de Janeiro onde já expôs seu trabalho em diversas galerias de arte.

Saiba mais: www.flickr.com/photos/44100398@N05

  • Bruno Sagacesse - Formado em Publicidade, atuou em diversos canais de comunicação como cinema, fotografia, desenho, pintura e design. Seu trabalho já foi publicado em revistas como MAD e no jornal Paulicéia Desvairada. Atualmente ministra oficinas de graffite para adolescentes em conflito com a lei na Fundação Casa, antiga Febem.

Saiba mais: www.bruno.saggese.com

  • Thiago Vaz (Saci Urbano) - Thiago Vaz é graduado e bacharelado em Comunicação Social, trabalha com artes visuais desde 1997. O tema central de seu trabalho é o folclore popular brasileiro e o patrimônio cultural-nacional. O Saci Urbano é o seu trabalho de maior projeção.

Saiba mais: www.flickr.com/photos/thiagovazart

Domingo (02/05) – Período da Tarde

No período da tarde, as apresentações seguem dentro do Espaço Cultural Casimiro de Abreu:

13h – Micro Mostra de Circo – (circo/teatro) Mostra de cenas curtas de circo-teatro, realizadas por artistas cirsenses da região do Grande ABC;

14h30 – Roda de Capoeira – (cultura regional) – Apresentação de Roda de Capoeira seguida de vivência com a participação do público realizada pelo grupo Origens Brasil, com o Mestre Nenê;

16h – Yan Ran – (teatro infantil) – Com o Cia do Nó. Grupo tradicional de Santo André, com mais de 10 anos existência;

17h – A queda – (teatro) – Espetáculo conceitual de pesquisa do grupo Teatro de Asfalto, criado na Escola Livre de Teatro (Classificação 14 anos);

18h30 – Micro Mostra de Cinema – (Cinema) – Exibição de produções de cineastas locais com curadoria de Sérgio Pires e Alex Moletta.

20h – Gran Circo Pimienta (teatro adulto, comédia) – Espetáculo 6 vezes premiado no festival FETO em Belo Horizonte, com o Grupo Brinquedo Torto.


 


 


 

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Conto (Curso de Dramaturgia)

Aí vai um conto que eu fiz para o curso de dramaturgia. Ainda não tem título e tem relação com uma das imagens quentes anteriores.



De boca em boca correu a notícia e mais veloz que a bala do fuzil veio gente de todo lado. Uns para agir, outros para assuntar, todos estavam ali. Com os pés na lama molhada, mulheres e crianças assistiam os homens invadindo a casa e arrastando consigo o embriagado senhor, que pouco se defendia. Jogado ao centro da ruela, circulo formado em seu entorno. Surge diante da porta a mulher, a neta adolescente agarrada a ela. O soluçar choroso da moça impressiona e faz aumentar o burburinho por alguns segundos. Ofensas feitas ao senhor jogado ao chão são proferidas por segundos e, ao cessar, ouve-se a boca da mulher que abraça a neta:
- Creio em Deus Pai todo poderoso criador do céu...
Socos e pontapés afundam o homem na terra. Alguns pastores oram na língua dos anjos. Ao longe, um atabaque toca para Ogum. Os soluços e gritos da menina rasgam a garganta e ferem os ouvidos. Do velho apanhando nada se ouve a não ser o estalar de pele e ossos. Findam-se as preces e a surra. O atabaque silencia em respeito. Abre-se o circulo e numa mistura de barro e sangue surge retorcido e rastejante o avô, que em direção aos pés da neta, sussurra atordoado:
- Perdoa o vô, filha! Perdoa o vô!
A menina vira as costas, adentra a casa e segundos depois, retorna segurando o choro com uma vasilha e dentro dela alguns pedaços de bolo de fubá.
- O senhor quer bolo?
A resposta vem misturada à massa de saliva, sangue, terra e restos de dente:
- Guarda um pedaço que eu já vou.
A velha suspira e a tensão dos ombros se alivia. A multidão inicia a retirada acenando para a mulher em gesto solidário.
- Precisando, avisa!
- Deus lhe pague! – respondem os olhos que quase choram.
- Té mais, Seu Jorge! – Arriscam alguns vizinhos mais íntimos.
Os passos decididos da esposa retornam à cozinha de casa. Logo entra o marido, envergado de dor em direção ao banheiro. O sofrimento de ter que retirar a roupa relembra os golpes há poucos recebidos. O remorso e a vergonha atingem a liquidez da lágrima, que vai ao ralo junto com a sujeira física e a podridão espiritual. Relembra à violência contra a neta não com o prazer do psicopata, mas com o pesar do arrependido. Pede perdão aos céus. Lá fora, o terço é rezado na rádio e o aroma de café traz um pouco de energia.
A porta se abre e vê-se de um lado a esposa em prece e do outro a neta de costas à beira do fogão velho. Ambas olham o homem um pouco mais recomposto com olhar nem frio nem quente.
- Deus é bom e justo! – disse na pausa entre uma e outra Ave-Maria.
Sem ter muito o que dizer e esperando sentir-se um pouco aliviado dos ferimentos que latejam, senta-se na cadeira próxima à mesa o marido, o avô, o pai. A neta ainda de costas tenta segurar o choro. A mãe, confiante na justiça de Deus e dos homens termina o terço, faz o sinal da cruz e enche o copo do esposo com o resto de café que ficou no bule.

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Mapa Numerológico da Cia Lírica de Teatro

TIREM SUAS PRÓPRIAS CONCLUSÕES



25/01/2010 - CIA LÍRICA DE TEATRO
SEGUEM ABAIXO AS INTERPRETAÇÕES DE SUA ANÁLISE NUMEROLÓGICA PELO SITE SOMOS TODOS UM

LIÇÃO
DE VIDA
11
O numero de sua data de nascimento. O que viemos aprender nesta jornada, assim como dificuldades a serem superadas.
-->
11.
Muito é esperado de você, o palco é seu lugar. Aprenda a tomar consciência dos seus deveres com a humanidade, sendo idealista e inspirador. Se viver positivamente será marcado pelo sucesso, fortuna e glória. Mas, se recusar a alta responsabilidade que esta vibração exige, perdas irreparáveis acontecerão. Deve aprender a viver com humildade sob a luz dos refletores. Deve ficar atento para características negativas como a superioridade, mau uso das habilidades psíquicas, vontade de se impor e falta de honestidade (usando a capacidade para fins materiais e pessoais).


SUA
ALMA


1
Sentimentos mais profundos, o que nos motiva, experiências e informações acumuladas para lidarmos nesta encarnação. O numero referente às vogais de seu nome.
-->
1.
Sujeito inovador, pioneiro, criativo, original, auto-suficiente, qualidades de liderança, quer dirigir grandes negócios, gosta de ser o melhor entre os melhores. Honesto, leal, forte desejo de independência em suas escolhas e ações. Falta-lhe às vezes diplomacia tornando-o refratário ao ouvir as opiniões de outros.


SUA APARÊNCIA

8
Nosso eu exterior ou impressão que causamos aos outros. Como somos julgados à primeira vista. Ex: como estamos vestidos, nosso tipo físico, atitudes, etc... Mas só aqueles que nos conhecem na intimidade nos conhecem verdadeiramente. O numero referente às consoantes de seu nome.
-->
8.
Influente, aparenta sucesso mesmo que isso não esteja acontecendo. Gosta de estar sempre bem arrumado, é muito cuidadoso nos detalhes ao se vestir. Possui jeito refinado, do tipo intelectual bem equilibrado. É bastante perfeccionista e dominador. Possui grande vitalidade e disposição tanto profissional como assistêncial. Preocupa-se demasiadamente em demonstrar eficiência e capacidade em tudo que faz.
Dica: Usar sempre equilibrio e bom senso.


O QUE
VOCÊ É

9
Todas as letras que compõem seu nome.
-->
9.
Nasceu para inspirar e viver uma vida de serviço para a humanidade, se destacar em pensamentos e ideais, fazendo de cada idealização uma realização. Grande capacidade de raciocínio, espírito observador em perceber, compreender, aconselhar e ajudar. É universalista nos sentimentos, protegendo e defendendo o próximo. Ser impessoal é sua missão. Está aqui livre, não se apegando a nada e nem a ninguém. É dono de atitudes abnegadas e tolerantes, demonstrando muita fé nas pessoas.
Não espere reconhecimento, não confunda amor e ódio, não resista ao desapego, não fuja da realidade.


DESEJO INSTINTIVO

i
A primeira vogal do nome, mostra nossos impulsos emocionais e como reagimos diante de estímulos externos. Descubra como reage aquele (a) que você ama.
-->
I
Tem capacidade de saber o que os outros precisam. São zelosos, gentis e compreensivos. Possuem talentos criativos e compartilham com os demais. São sensíveis e temperamentais preferem aperfeiçoar o que conhece a testar algo novo. Oscilam de humor.
Conselho: Cultive o bom humor e demonstre fragilidade.


SEU NÚMERO DE PODER

2
Todas as letras que compõem seu nome, mais a sua Data de Nascimento. Essa vibração ajuda no aprendizado de nossa missão ou lição de vida. Aquilo que você acertou com a Divindade antes de nascer. Funciona como um farol dirigindo nossa vida.
-->
2.
Sua qualidade de diplomata facilitará o entendimento com os outros os levando a cooperar, o trabalho de assessoria ou aconselhamento será agradável e pode trazer sucesso. Sendo espiritualmente inclinada talvez se volte para a religião ou misticismo. Deve evitar ser dependente.

sábado, 13 de fevereiro de 2010

Imagens quentes

Suspira finalmente após lavar a pilha de louça que ficou do almoço. O pano de prato descansa sobre os ombros da senhora que decide ir sentar-se diante da tevê. Os pratos escorrem sobre a pia aguardando o jantar, a panela de pressão já faz barulho e o forno denuncia pelo aroma o crescer de um bolo de fubá. Um passo dado em direção à sala e o grito desesperado da filha-neta cala os sapos que moram perto. Mal se vira em direção à porta e a imagem da jovem se posta diante do sol que vem se pondo. As rugas na face se acentuam ao vê-la horrenda e desgrenhada, feita mulher nas mãos de conhecido monstro. Terra no corpo, coração no chão e honra na lama. Agonia adentra os ossos finos e já cansados da mulher no anoitecer cáustico que invade os tijolos da casa sem reboque.

Imagens quentes

A catedral dialoga com a mulher humilde e devota alheia à inquietude da cidade. Pensamento suburbano em meio à correria diária. Joelhos cansados no solo, braços abertos e mãos calejadas espalmadas em prece de mãe-avó. Sulcos na pele queimada pelo sol dos anos remontam os caminhos percorridos na dura vida. Cabelo branco que há tempos venceu a tentativa frustrada de tintura. Vestido de flor de estampas num desbotado rosa toca o mesmo chão por onde passam pés apressados, que ao meio dia, convulsivamente caminham de lá para cá com objetivos distintos. Gente sem fé que trabalha dia e noite. Som de britadeiras, trânsito infernal, igual calor. Ela: único sinal de pausa entre os passos. Respiração profunda, pensamento elevado, desejo de auxílio, conselho, livramento. O pedido se acentua em meio a lágrimas. O sino badala em resposta. O diálogo persiste indiferente à adjacência impessoal da metrópole que mastiga povo enquanto o joelho urra na pedra ardente

Imagens quentes

O mestre se prostra em frente à sala de aula. Olhar nervoso. O globo ocular marcado por pontos vermelhos de visível opressão. Assustada em meio a grades e gritos, suas mãos trêmulas seguram a pistola cromada que emudece a sala. Cabelos brancos como o avental antigo nunca imaginaram participar de tal figura. No quadro negro, o poema de Drummond emoldura a imagem. Dedos no gatilho de inconseqüente ameaça calam quem há pouco urrava e intimidava.

IMAGENS QUENTES

QUAL DAS DUAS FICOU MELHOR?



Um atleta caído no chão. Mal estar aparente. Largam os milhares de homens em busca de todos os passos presentes nos quarenta e dois quilômetros da maratona. O atleta segue no chão, o ouvido zumbe, a terra parece rodar e roda. Não há meio de parar para ajudá-lo sem abrir mão de seu tempo na corrida. Todos olham estupefatos o campeão que enverga na tarde do último dia do ano, na última corrida da vida. O vômito escorre no asfalto paulistano, a lágrima escorre o rosto do herói nacional, cujos braços e pernas trabalham em busca do erguer-se. Não há quem queira assim encerrar sua carreira. A força que o motiva é o anseio de ser digno como sempre fora. Não se permite a derrota não brigada. Não se aceita essa vergonha. A câmera da tevê se aproxima e enquanto luta imagina a voz do narrador.

Um atleta caído no chão. Mal estar aparente. Largam os milhares de homens em busca de todos os passos presentes nos quarenta e dois quilômetros da maratona. Apenas ele no chão enquanto o ouvido zumbe e a terra roda sob seus pés. Outrora campeão e herói, hoje guerreiro que luta apenas pela dignidade de encerrar dignamente sua trajetória. O corpo expulsa agressivo os líquidos ingeridos que molham o asfalto paulistano, a lágrima corre dos olhos do homem, antiga lenda. Seus olhos percebem a câmera de tevê que se aproxima. A vergonha o domina e antes que possa desmaiar, rejeita a vergonha de perder sem luta forçando os braços e as pernas tremitantes a um passo desajeitado.

De volta (IMAGENS QUENTES)

Oi, Gente!

Estou de volta.


Fiquei muito tempo fora. Pretendo voltar agora, mas também sem nenhuma obrigação de aparecer aqui sem ter vontade. Vou usar meu blog para publicar os exercícios do Curso de Dramaturgia, que estou fazendo na Cia do Nó.

Aí vão algumas imagens quentes que eu trabalhei no curso. Esta é a nova série do meu blog. IMAGENS QUENTES



Na beira do riacho que leva à praia, há um homem que colhe pedras. Meia idade pouco aparente. Um pouco mais alto que o comum, observa o mundo de um ponto de vista privilegiado. Negros os lisos cabelos e grandes olhos, ambos contrastam com a fria luz da lua cheia. Tudo olha para ele. Roupas de forasteiro: bata de manga comprida azul-marinho, calça bege nada suja; pés descalços estranhamente limpos e unhas muitíssimo bem feitas. Um semblante que carrega ao mesmo tempo a tristeza em realizar uma tarefa desagradável e a honradez de quem cumpre uma missão importante. Preenche a bata azul-marinho, que se faz de cesta. Não há sinais de água na bata. O olhar, o pensamento, a consciência, os pés, a roupa sem qualquer vestígio de mancha. Estranho asseio. Seu olhar se dirige á praia.