quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Ecos do CAT (Aula 18)

Desde pequeno tenho paixão por palavras. Desde as mais simples que aprendi a escrever nas cartilhas do pré-construtivismo como casa, ovo, bola, àquelas mais complexas como embuste, engodo, incólume, etc. Sempre fui fascinado pelas palavras. Seja por sua aparência, sua sonoridade, sua carga semântica e sua história. Mas tenho de concordar que certas coisas fogem ao domínio das palavras. O que é a palavra senão um signo de algo que existe, seja no plano mental, concreto, imaginário ou o que quer que seja? E como encontrar palavras para algo que não se sabe o que realmente é. Se não se sabe, não há precisão na descrição e não há palavra. Acho que estou divagando e deve ter gente maluca por aqui para saber o final da história. Eu sempre me alongo aqui, mas após dois dias sem dormir direito e um dia praticamente sem comer, o que valeu muito a pena, enquanto reflito aqui, o corpo e a mente pedem descanso. Então vamos lá: 

Cheguei correndo e quase me atrasei para a aula do Lincoln. E confesso que minha cabeça estava longe. Ainda assim, chamava-me o tempo todo à atenção. Não creio ter prejudicado a aula, tampouco me prejudicado. Estava muito preocupado e fiz a aula com um olho no peixe e outro tentando visualizar ao longe os gatos, que vadiavam pela rua... 

Cantamos e tentamos experimentar nossas colunas. Não foi como na aula da Tica, afinal, somos calouros e conhecemos verdadeiramente nossas colunas só agora. Senti um clima um tanto pesado na aula e preocupei-me. Minha amiga carioca Tathiane Matos fez um desenho na parede enquanto cantávamos a música do Emerson. Olhei para aquilo e vi que dava liga com minha instalação. 

A Leitura do Diário de Bordo feita pelo Majó foi incrível. Em todos os sentidos. 

E então, entro no reino do indizível, fora do domínio do País da Gramática. E que não é também da Imagem ou do Som. É de algo que só se sente e que eu não sei mesmo explicar. Vou descrever friamente: 

Meus meninos foram em peso. Estava com medo de não vir ninguém e vieram 13. Nossa! Para mim, a instalação foi ali. Aquela foi a instalação que eu vivi. Eu não sabia o que dizer. Apenas repetia comigo: "como eu amo esses cavalinhos..." até os menores estavam lá. E não estavam sozinhos. Estavam por eles (Brinquedo Torto), Peixe Vivo, Trovadores, Poesia de Corpo Presente, Cia do Abraço, Trup´stranha, Trupequenos, tanta gente...  Combinamos o que fazer: Utilizaríamos o desenho da Tathi como mote para uma imagem. E assim foi, após uma atividade com fotos de mais de 10 anos de trabalho, os CATdráticos conseguiram encontrar a Pamela pequena de 2000 e a 2011 em duas fotos distintas. Abri a porta para eles e ouvi, vi e senti o espanto deles quando viram que meus meninos eram a instalação. Sim, era eles, o teatro que eu acredito estava ali, a coisa mais linda e mais pura da minha vida, minha missão e minha transmissão, ali na frente deles. Muitos choravam e olhavam boquiabertos. E foi então que meus cavalinhos foram buscando meus amigos um a um para uns cinco minutinhos de troca de experiência. E lá fiquei eu de expectador daquela cena mágica que eles provocaram. Sim, eles, pois eu só propus, quem embarcou na proposta não fui eu. Foi maravilhoso, de verdade! Aqueles momentos que a gente guarda para a vida inteira. Meus meninos falando do teatro deles para gente que é muito mais fera do que eu, que entende muito mais do que eu, que viveu muito mais do que eu vivi. E estavam sendo ouvidos, os danadinhos. Eles são encantadores. Após o clássico beijo na testa, fui marcando-os de um a um com tinta guache e era marcado por todos em minha roupa toda branca. A cada membro do CAT que me marcava, dizia coisas e ele como se ele fosse um daqueles meninos que já se foram e não estão mais comigo. A mensagem era para  correr os ares e atingir o coração dos meus queridos, já não tão pequenos assim. Um a um, até o último. 

Durante a conversa ouvi muita coisa. Muito elogio, que agradeço sinceramente, mas pelos quais não posso ser seduzido. Já caí nesta armadilha uma série de outras vezes e desta vez não será assim. "Elogio faz bem, mas não pode cegar..." já dizia Catarina. Sei que não sou herói nem santo, e que meu trabalho é falho em muitos pontos, embora seja recheado de amor, o que sempre o acaba salvando. Agradeço a intenção das palavras e não o conteúdo. Se eu acreditar, posso cair no mesmos erros de outrora e, na verdade, como sempre digo e disse nesta quinta para meus cavalinhos, nosso teatro só é como é porque eles querem que seja assim. De que adiantaria eu querer sozinho. Da mesma forma, a instalação.Talvez tenha funcionado, mas porque as pessoas se propuseram a aceitar a proposta e viajar dentro dela. Foi isso que criou a Magia, não fui eu. O que tinha ali era, Adultos, crianças, adolescentes, um cara de branco, tinta e um desenho na parede. O significado atribuído a tudo é que fez a diferença. Falando em linguagem de PNL: "As pessoas respondem à experiência, não à realidade em si."


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