segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Ecos do CAT (Aula 19)

Referências de hoje: "A função da arte" de Eduardo Galeano

Músicas: "Trovoa" e "Um dia útil"

Começam sons. Somos deitados no solo. Cerram os olhos e parto. Divago, vagueio por terras imaginárias de dunas altas e flautas dissonantes. Me ajudo a olhar e rir do dia útil e questionar-me o mesmo que a canção pergunta.

Doce sabor de som. É bom e não dói, por hora. Experimento.

Rebeca em cena. O teatro a fez ver o mar com outros olhos. De Camaçari a Aracaju, de Aracaju ao Rio. E de lá para São Paulo com pena, dor, ira, horror. E o ridículo do humano constrange a criança quando zomba do sotaque em cada canto que passa, sem descobrir nem perceber que é bela a canção que toca a voz de cada região. Diversidade é riqueza que se tem de orgulhar.

Quem disse que o teatro não salva? Salvou uma menina do ódio mortal de Sampa, que de besteirete e biquíni. salvou também o grupo que perdeu quem quebrou o pé. O que seria de ti sem teu rebolado, menina?

Quem não gosta de São Paulo como tu? Quem odeia esta lógica desorganizada e caótica da cidade que te aceita, segundo teus olhos, como madrasta? Lógica caótica como a prática que escolheste como tua...

E a partir do mundo visto de dentro de seu Ford Ka vermelho, outra possibilidade vislumbra que não o grupo, que não mais lhe é caro pelos traumas que lhe causou a prática com o tal famigerado...

E assim, sapateia feliz e só em busca de novos ares e novos mundos a menina sonhadora, sem sapato mas de meia vermelha, cor da paixão, vermelha também como seu Ka, de olhos abertos para São Paulo.

O Peregrino Well cerra seus olhos e conta. Vem e volta do Sul a São Paulo e vice-versa. Desde pequeno é tropeiro. E de lá para cá busca onde se encontrar até chegar em Taubaté. Na batalha de juntar dinheiro para buscar a vida lá longe, o mundo e suas ironias tiram-lhe o sonho. Silenciou-se por dois anos a poesia até que um surto devolveu-lhe a vida.

Enquanto fala, seus pés inquietos tiquetaqueiam no chão. Os dedos mantendo-se por iniciativa privada própria em constante movimento, carregam-lhe a força de sua vida. Um Mazzaropi moderno, simpático e belo como o ser do interior. E na deliciosa ingenuidade caipira de nhô-sartre reflete sobre as agruras da relação interpessoal: "num é comigo o problema...".

O mundo precisa é dessa ingenuidade, dessa verdade doce e alegre de eterno caipira-menino-biu, que dubla Juninho e tira em primeiro sozinho. Canta Colombina canta, menino, enquanto a menina sapateia. E chega de malmequer.

Vamos à casa de Priscila. Local de rituais sacroprofanos. Todos os santos estão a nos esperar. Sua casa é grande como a região metropolitana. O ABC dos santos junto com a intercessão das divindades da megalópole recebem-nos com o aconchego de mãe. No lavapés purifico-me, a caninha me acalanta e escrevo uma oração.

Entre flores e espinhos, reflito sobre meu ser e meus caminhos. Só agora os vi como pregos. Agora vou buscar um pouco de papo entre os meus. Porque poesia é troca e conversa boa tem o lirismo dos grandes mestres.



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